Referência nacional no tratamento do câncer infantil, o Hospital da Criança de Brasília (HCB) corre o risco de fechar. A presidente do PSDB-Mulher DF, Luiza Werneck, lamentou que embates judiciais possam colocar em risco um trabalho de excelência que já atendeu quase 3 milhões crianças de todo o país desde o início das operações, em 2011.
A continuidade dos atendimentos está ameaçada pela decisão judicial do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que obrigou o Instituto do Câncer Infantil e Medicina Especializada (Icipe) – responsável pela gestão do hospital – a devolvê-lo ao Governo do Distrito Federal (GDF).
“Eu sou favorável que todas as questões sejam resolvidas mantendo a atual gestão do Hospital da Criança. É tão raro um serviço público ser reconhecido pelo bom atendimento que isso deve ser levado em consideração”, justificou.
Para a tucana, o HCB já salvou muitas vidas, é um modelo de administração que deu certo e deve ser mantido. “Tudo no Hospital da Criança é feito com muito amor e carinho. As pessoas que estão lá são pessoas que doaram a vida para esta causa. Se por ventura existir alguma irregularidade, que a solução venha concomitante a gestão atual”, reforçou.
O jornal Metrópoles publicou nesta quarta-feira (18) a íntegra da carta de Daniela Migliari, mãe de dois pacientes que foram atendidos pelo HCB, que relata o sentimento de familiares dos pacientes com a possível notícia da paralisação dos atendimentos. Leia a íntegra do registo abaixo:
“Essa carta expressa nossa gratidão pelo dia de hoje: após quase dois anos, nosso querido filho Theo teve alta do tratamento com infusões de imunoglobulina no Hospital da Criança, devido à prematuridade. Descobrimos quando ele tinha 4 meses e chegamos ao Hospital de Base para avaliação da equipe de imunologia. Era dezembro de 2010. Sabíamos que os melhores especialistas da área estavam no atendimento público, então, abrimos mão de usar nosso plano de saúde privado.
Não foi fácil o começo do tratamento no Hospital de Apoio. Mesmo ali, com tantas limitações de estrutura, sempre fomos cuidados e o Theo sempre recebeu muito carinho e atenção. Após quatro meses, soubemos da transferência para o Hospital da Criança. Um lugar incrível, humanizado, alegre. E pensei comigo: “Que decisão acertada essa! Agora estamos com atendimento de primeiro mundo, e num hospital público! ”
Quando entramos lá pela primeira vez, as lágrimas rolaram no meu rosto. Nove anos antes, ainda sem filhos, eu e meu esposo havíamos atuado como voluntários da Abrace, sem nunca imaginar que um dia precisaríamos usufruir dos mesmos serviços. Nos sentimos recebendo um retorno do pouquíssimo que tínhamos dado. O tratamento acontecia na sala de infusões de medicamentos para crianças com doenças do sangue, junto com o tratamento de quimioterapia infantil.
Num lugar assim, a gente coloca a vida em perspectiva. A gente se põe nos sapatos do outro, e agradece por tudo que tem. Temos a felicidade da questão do Theo ser transitória, só que muitas outras crianças têm síndromes complicadas que demandam esse tratamento pela vida toda. Rezo por elas, e agradeço a Deus de poderem ter o Hospital da Criança como refúgio no contexto que envolve tratamentos tão complexos.
Os funcionários chamam meus filhos pelo nome. Cada lugar: a recepção, a triagem, a entrega dos remédios, as consultas com enfermeiras e médicas, a sala de medicação. A nutricionista, a turma da cantina, as enfermeiras, os voluntários da Abrace que passeiam pelas salas oferecendo Reike ou risadas com seus narizes de palhaço. É tudo tão bonito que me emociono só de escrever.
Ver o recurso financeiro bem empregado na assinatura de cada ala do hospital faz a gente acreditar na vida, nas pessoas e no poder da mobilização social. Recebam nosso abraço, admiração e gratidão. Parabéns por transformar sua dor em alívio e cuidados em horas difíceis para tanta gente!
Que Deus a abençoe, abençoe todos os funcionários do hospital e seus pacientes. ”
*Com informações do jornal Metrópoles