Opinião

“Gargalos nos transportes”, por Andreia Zito

Andreia Zito Foto Alexssandro LoyolaEm recente relatório de auditoria sobre as principais obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) nos últimos dois anos, o Tribunal de Contas da União (TCU) constata que nove entre 11 obras de rodovias concluídas apresentam problemas estruturais. Os defeitos nesses trechos recém-construídos surgiram, em média, sete meses depois de as obras terem sido finalizadas.

As 11 rodovias selecionadas pelo Tribunal de Contas da União estão localizadas em oito estados da Federação e custaram R$ 741,3 milhões. Para corrigir estes problemas estruturais surgidos precocemente, o DNIT precisará gastar mais R$ 159 milhões, ou seja, o equivalente a 21,4% do valor das obras, conforme a estimativa do TCU.

Diante da gravidade da situação detectada, os ministros do TCU determinaram que o DNIT apresentasse um estudo com “parâmetros mínimos de aceitabilidade de obras rodoviárias de construção, adequação e restauração”. O órgão também deverá apurar a responsabilidade das empreiteiras contratadas, “diante dos serviços mal executados”.

Como órgão auxiliar da Câmara dos Deputados, o TCU cumpre com isenção e probidade sua missão ao cobrar punições às empreiteiras com base na Lei de Licitação – Lei 8.666, de 1993, e, recomenda que o DNIT exija a “reparação das falhas construtivas”, nos 408 quilômetros de trechos com problemas estruturais.

A auditoria promovida pelo TCU também fez uma avaliação funcional, que levou em conta o conforto e a segurança das estradas. Neste caso, foram detectados problemas em cinco das 11 rodovias analisadas, num total de 83 quilômetros com defeitos funcionais.

Os gravíssimos problemas nas estradas brasileiras tais como: buracos, sinalização inexistente ou deficiente, falta de segurança e deficiência no atendimento ao usuário, são fatores que colocam em risco, a integridade de caminhões, ônibus e automóveis e as vidas de seus condutores, passageiros e de todos aqueles que de alguma forma utilizam as rodovias.

As principais estatísticas nacionais disponíveis atualmente sobre óbitos e internações de vítimas de acidentes do trânsito são as divulgadas pelo Ministério da Saúde. Os dados mais recentes revelam: 42.800 óbitos em 2010 e 174.000 feridos internados em 2011. A terrível constatação de mais de 40 mil óbitos por ano nas rodovias é uma vergonha nacional que precisa ser enfrentada pelo poder público, de todas as formas.

Os gravíssimos acidentes ocorridos em nossas estradas, não podem ser

imputados apenas à imprudência, ao cansaço, ao consumo de álcool e drogas, ou, excesso de velocidade. O acidente em estradas pode até ocorrer em virtude da irresponsabilidade do condutor do veículo, mas as condições das rodovias são determinantes na ocorrência de desastres.

Lamentavelmente, o denominado “custo Brasil”, conhecido e incorporado na composição de preços de nossas commodities, que chegam a ser 30% mais caras em virtude da péssima malha viária nacional, tem na infraestrutura do país um freio que dificulta a geração de riqueza e o seu desenvolvimento. O governo está longe de cumprir as 46 promessas de campanha, e na infraestrutura não avançou sequer 20% na eliminação dos gargalos que dificultam o crescimento da economia.

Na logística, a situação também está aquém do esperado. Apesar das promessas de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) eliminaria os gargalos que limitam o crescimento, o governo reconhece que o ritmo da execução das obras logísticas foi baixo. Diante da dificuldade do poder público para tocar obras, as grandes medidas para o setor acabaram sendo os anúncios de concessão de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos à iniciativa privada.

Deputada federal (PSDB-RJ)