É uma honra abrir o lançamento do Movimento Nacional Franco Montoro, e celebrar sua trajetória na presença de companheiros que também caminharam com ele – e comigo – em sua jornada.
Montoro foi, ao lado de Mário Covas, o meu grande mentor político, o responsável por minha ida para o PSDB onde permaneço até hoje, e por minha opção pela carreira política.
Por tudo isso foi para mim muito importante receber o convite do Movimento Franco Montoro – cuja ata de fundação assinei em 19 de janeiro de 2010 -, quando governadora do Rio Grande do Sul, para falar nesta homenagem.
O Movimento está de parabéns, mostra haver cumprido bem a promessa de resgate histórico de forma arrojada e organizada, que já se adivinhava em seu nascimento.
O que lembrar, então, de Franco Montoro, o homem público experiente que, em mais de 50 anos de vida pública, foi vereador de São Paulo, deputado estadual, deputado federal, ministro do Trabalho e da Previdência Social, governador de São Paulo e senador da República, além de fundador do PSDB?
Grande líder da fé, da relação com a sociedade e do povo, sempre acompanhado pela esposa Lucy, dizia: Em pequenos atos e na eterna defesa do que consideramos nosso valor está o caminho do futuro da sociedade.
Católico, seguidor da democracia cristã, Montoro acreditava que a sociedade deveria seguir o hoje tão falado “caminho do meio”, o meio termo, sem cair no totalitarismo comunista nem no capitalismo selvagem. Que falta está fazendo agora a sua visão ética do mundo, voltada para as mudanças sociais e administrativas!
Franco Montoro, filósofo, advogado e pedagogo, foi ministro do Trabalho e Previdência Social durante o gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, de 8 de setembro de 1961 a 12 de julho de 1962.
Poucos anos depois, após o golpe militar de 1964, juntou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição à ditadura e ao partido da situação, Arena. Sua atuação parlamentar foi marcada pela luta em defesa dos direitos trabalhistas e nessa época escreveu o livro “ABC dos Direitos do Trabalhador”.
A partir daí, foram duas legislaturas como senador da República, em que se destacou pelo trabalho pela abertura política do Brasil e pela defesa dos direitos sociais.
Em 1982, eleito governador de São Paulo, nas primeiras eleições realizadas para o cargo após a ditadura militar, levou para trabalhar com ele o ex-prefeito da capital, cassado pelo golpe, Mário Covas, e juntos trabalharam ativamente na articulação do comício “Diretas Já”, no Vale do Anhangabaú, em 1984. Estavam lançadas as bases para a redemocratização do Brasil. E também para a fundação do PSDB, que nasceu da insatisfação de Montoro e de outras cabeças pensantes do MDB quanto aos rumos tomados pelo partido chefiado por Ulysses Guimarães. Recorda Raul Christiano, no livro “De Volta Ao Começo”, editado durante a minha gestão à frente do Instituto Teotônio Vilela, em seu capítulo, “Montoro é Saudado Companheiro Militante”, que os jornais da época registraram com surpresa a adesão de mais de quinhentas pessoas, provenientes da capital e do interior, conferindo representatividade à reunião promovida por iniciativa da própria militância paulista, no dia 5 de junho de 1988, para formar as bases do novo partido. Na ocasião:
“ Montoro explicou que o novo partido deveria corrigir os erros do passado e citou alguns exemplos: Pretendemos dar a ele uma estrutura verdadeiramente democrática; queremos o desaparecimento da figura do delegado permanente, que foi fonte de aliciamento e fisiologismo; ninguém poderá decidir sobre a vida do partido pelo fato de ter assinado ficha de filiação na véspera das eleições; haverá rotatividade nas funções da cúpula partidária e teremos representantes da sociedade civil e de movimentos sociais nos órgãos de direção” – Diário Popular, edição da segunda-feira, 6 de junho de 1988.
Foi então que me decidi pela vida pública. Pelo PSDB e pelos líderes – Montoro à frente – que o criaram. Pela defesa do parlamentarismo em seu estatuto, pela via da reforma para a transformação do País, pelo combate ao fisiologismo/populismo/totalitarismo, e pelo DNA que se formava com ele: o uso responsável do dinheiro público. Tudo no projeto me seduzia e mergulhei nele de cabeça.
Sempre afirmo, como fiz na comemoração de seu centenário, em 14 de julho de 2016, que há líderes que marcam a história política e partidária com grandeza única e André Franco Montoro é um deles. Nós, do PSDB e do PSDB Mulher, temos a felicidade de tê-lo tido como fundador e incentivador da democracia construída através do nosso partido.
Defensor intransigente da democracia e da integração entre os vários setores da sociedade, Montoro foi além do PSDB e organizou o Instituto Latino-Americano – ILAM, que rendeu frutos de importância significativa, como a JULAD – Juventude Latino-Americana Democrática, e a União Latino-Americana de Mulheres – ULAM, que tive a honra de presidir.
Com os olhos no mundo, nem por isso deixava de valorizar as comunidades e é sua a frase emblemática: Ninguém vive na União ou no estado. As pessoas vivem no
município.
Era assim, Franco Montoro, um grande líder, um homem tão à frente de seu tempo que as reformas pelas quais sempre lutou estão em discussão agora no Congresso Nacional, e celebramos sua memória no momento em que ele se faz mais presente e necessário em nossos debates.
Como lembrou bem o deputado Luiz Carlos Hauly, na comemoração de seu centenário: “Franco Montoro estaria agora comemorando o seu 100º aniversário e estaria conosco, promovendo os melhores debates sobre o Brasil, seu papel como integrador das Américas, e, principalmente, valorizando a política com “P maiúsculo”. Ele era um político da unidade, da fraternidade universal”.
O que mais poderíamos querer, em tempos polarizados, do que um político da unidade, da fraternidade universal, que estivesse conosco agora, sinalizando por caminhos melhores e mais seguros para um Brasil tão diferente do sonhado por Montoro? Está faltando uma pitada dele em cada um de nós.
Um pouco mais desse político generoso, que foi porta de entrada na vida pública para homens que se tornaram líderes por sua vez, como Mário Covas, José Serra e o próprio Fernando Henrique Cardoso, seu suplente para o Senado Federal.
Falar de Montoro é tratar do parlamentar de alma continental, em tempos de mesquinhez. E de tentar resgatar seus valores e sua cultura de paz, para que o legado de uma vida inteira dedicada ao Brasil não se perca.
Celebremos, então, Montoro, lembrando de uma de suas frases favoritas, repetidas à exaustão, homenageando o poeta: “Um sonho que se sonha so é apenas um sonho que se sonha só. Um sonho que se sonha junto é o começo de um novo caminho”.
O Brasil nunca andou tão precisado de um sonho bom, daqueles que se sonha junto e transforma a realidade. Que a homenagem que hoje fazemos a Franco Montoro nos inspire a sonhar, mais e melhor. A ele!!!
*registrado como lido no plenário da Câmara no dia 17 de maio.