O escândalo do mensalão, descoberto em 2005, e os mecanismos de combate à corrupção que surgiram com o episódio, abriram os caminhos para a Operação Lava Jato. A afirmação foi feita pelos cientistas políticos Carlos Pereira e Gregory Michener, em artigo publicado na revista da Universidade Cambridge, destacado em reportagem da Folha de S. Paulo deste domingo (20). Para os estudiosos, foi naquele momento que o ataque à impunidade e ao “jeitinho brasileiro” ganhou força. A partir daí a população começou a acompanhar o noticiário e a cobrar atitudes das autoridades no combate aos atos ilícitos cometidos por seus representantes.
Os autores reforçaram, em entrevista à Folha, a importância das investigações do mensalão para a mudança de postura tanto das autoridades quanto da população no tocante aos crimes envolvendo o dinheiro público.
“Os avanços legais do mensalão forçam os cidadãos brasileiros a questionar a presunção frequente de que investigações corrupção ‘acabam em pizza’, com ricos e poderosos sempre dando um ‘jeitinho’ de contornar a lei”, afirmaram os autores para o jornal.
A cooperação entre instituições como Ministério Público e Polícia Federal é apontada pelos cientistas como um efeito positivo do mensalão que deve continuar amadurecendo ao longo das próximas investigações. “A importância do mensalão reside, em parte, na coordenação bem-sucedida [entre órgãos], o que evidencia o aprendizado institucional”, explicaram os estudiosos.
A cobrança por transparência também é citada como amadurecimento dos cidadãos e das instituições para que a responsabilidade com as verbas públicas seja incorporada na rotina da vida pública no Brasil. O interesse público pelo caso do mensalão e cobertura jornalística intensa, incluindo transmissões ao vivo de sessões no Congresso e no Supremo Tribunal Federal, geraram essas cobranças.
De acordo com os cientistas, a Lei de Acesso à Informação e a da Ficha Limpa são frutos dessa mudança de comportamento. Outro efeito do mensalão que pode ser observado na Lava Jato é a tendência dos investigados em aderir a delações premiadas. Já foram firmados pela força-tarefa em Curitiba 70 acordos de delação.
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