Opinião

“Decolagem atrasada”, análise do ITV

grau-de-investimento-perda-480x320-300x200A decolagem da economia brasileira vai atrasar. O país está se deparando com dificuldades muito maiores do que era possível antever. A herança petista é muito mais maldita do que se poderia crer. A crise é muito, muito grave.

Ontem o Banco Central divulgou as primeiras estimativas oficiais sobre o comportamento do PIB brasileiro no terceiro trimestre do ano. A queda foi de 0,78% na comparação com os três meses anteriores, quando a economia já recuara 0,4%. Como resultado, a recessão deste ano poderá ter sido mais severa do que se previa até agora.

Vão mal a indústria, com queda de 1,1% no trimestre; o varejo, com baixa de 2,7% no mesmo período; e até o comércio internacional, que vinha mostrando algum alento, também patina. Salvo honrosas exceções, os investimentos continuam engavetados. Numa economia anêmica, faltam, portanto, motores para ativar a decolagem do crescimento.

A confiança de empresários e consumidores se mantém na geladeira: ninguém investe; poucos compram. Empresas e famílias continuam às voltas com dívidas salgadas, sustentadas por juros ainda extorsivos. As expectativas retrocedem na mesma velocidade com que se descortina um país envolto em muito mais adversidades do que se podia crer até pouco tempo atrás.

De positivo há o fato de a atual equipe econômica assumir atitude diametralmente oposta à da anterior: em lugar de dourar pílulas para enganar o público, opta pelo realismo e pela transparência. Melhor assim.

Na semana passada, a equipe antecipou-se às dificuldades e reviu de 1,6% para 1% a previsão de alta do PIB de 2017. O FMI só projeta 0,5% e há instituições financeiras que já trabalham com horizonte de crescimento zero. A revisão oficial é importante porque impacta as estimativas de receitas para o próximo ano: se a economia cresce menos, os tributos também, e o governo tem menos para gastar.

Na realidade, depois de uma primeira lufada de otimismo com a mudança de governo, ocorrida em maio e tornada definitiva no fim de agosto, a dureza da herança maldita petista se impôs.

O governo Michel Temer tem tentado fazer o que está ao seu alcance neste momento: domar os gastos públicos, disciplinar as contas do governo e tirá-las da catacumba onde as gestões petistas as jogaram. Enfrenta, nesta batalha, as resistências de sempre e, em especial, dos que enterraram o país e agora tentam posar de salvadores.

Enquanto os gastos não forem domados, fica mais complicado alterar um dos elementos chaves da economia: a taxa básica de juros. O recrudescimento da inflação como decorrência das mudanças no cenário externo e da alta recente do dólar impõe ainda mais cautela neste movimento, iniciado no mês passado depois de um inverno de quatro anos sem quedas.

A constatação é de que, tal qual um avião Antonov que raramente decola, o país continua travado, atado ao chão. Será preciso muito mais disposição para enfrentar as dificuldades legadas por mais de uma década de irresponsabilidades. O ímpeto de reformar o país tem de ser redobrado, porque o problema revela-se bem maior do que se podia imaginar.