Opinião

“O enganador de serpentes”, análise do ITV

RP_DIscurso_Lula_Foto_Roberto_Parizotti_CUT_15092016003-850x567Luiz Inácio Lula da Silva teve na quinta-feira oportunidade de defender-se das graves acusações que o Ministério Público lhe fez, provando que ele foi o astro-rei do esquema criminoso que vigorou no país nos últimos anos. Não o fez. O petista optou pela via de sempre: pregar para seus convertidos. Contra a dura realidade, Lula não tem o que dizer.

Foi mais de uma hora com o rame-rame de sempre. Lula, a vítima das perseguições. Lula, o injustiçado. Lula, o odiado pelas elites. Lula, o maior líder da história brasileira. Lula, o redentor dos pobres. Lula, o honesto inimputável. Lula, o vencedor. Só os petistas têm convicção disso. Deste enredo, o país, com provas e razões a rodo, já se cansou.

Sem argumentos para contrapor-se à denúncia apresentada na véspera em Curitiba, o ex-presidente enveredou pelo caminho por onde ainda sabe trilhar. Abusou da retórica. Exagerou na demagogia. Exercitou seu poder manipulador e o mais barato sentimentalismo. E destinou sua “fala de indignação”, como ele classificou sua pregação, ao objetivo de manter unida sua tropa – melhor seria dizer sua seita.

Lula tomou do caudal da internet o mote de seu discurso: os procuradores federais não teriam provas contra ele, apenas convicções. Vale dizer o contrário: Lula tem muitas convicções sobre o que fez e representa para o país; o povo brasileiro, contudo, tem provas de sobra de que as coisas são bastante diferentes do que o petista sustenta.

Lula tem convicção de que seu governo foi o melhor da história. Os brasileiros têm prova de que foi apenas um período breve em que o Brasil – cujas contas públicas o petista recebeu em ordem de Fernando Henrique Cardoso – surfou no vento de cauda do boom econômico mundial, mas cresceu menos que poderia e, cessado o impulso, retrocedeu a um buraco nunca antes visto na história do país.

Lula tem convicção de que levou o “povo da periferia”, para usar mais uma expressão maniqueísta dele, para o paraíso do consumo, do bem-estar e do pleno emprego. Os brasileiros têm prova de que 12 milhões de pessoas estão sem emprego no país, milhões de famílias descenderam socialmente nos últimos anos e nem para a comida o dinheiro agora dá.

Lula tem convicção de que governou contra os ricos, promoveu a maior ascensão social da história, reparou injustiças seculares. O país ainda convive com as provas de que a concentração de renda se mantém tão alta quanto sempre foi, de que os que supostamente perderiam com um governo do PT foram os que mais ganharam e de que a coalizão montada por Lula para governar tinha nos grandes empresários seus maiores alicerces.

Lula, o pobre retirante, agora vive em cima de patrimônio que pouquíssimos brasileiros são capazes de amealhar com o trabalho. Isso ele jamais conseguirá provar que foi obtido de maneira lícita. O Brasil tem convicção de que o ex-presidente é o chefe-mor da roubalheira dos últimos anos e o centro de uma organização criminosa. Só quem ainda prefere não ver isso são seus seguidores, docemente enganados pelo sibilar da jararaca.