Opinião

“Menos mães no Brasil”, por Solange Jurema

Foto: George Gianni/PSDB
Foto: George Gianni/PSDB

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É amplíssimo o espectro de análises, avaliações, justificativas e deduções sobre as razões que fazem com que a mulher brasileira desista de ser mãe ou diminua o número de filhos, comparativamente às suas próprias mães e mais ainda em relação às suas avós.

Qualquer que seja a ótica que se tente interpretar isso, o fato é que as estatísticas apontam para uma efetiva redução gradual e significativa do número de brasileiras que deixam de ser mãe por livre e espontânea vontade ou temerosas a isso pela difícil realidade que enfrentarão em seus cotidianos.

Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios do IBGE aponta que em dez anos, no período 2004/2014, o número de mulheres que decidiu não ter filhos subiu de 36,3% para 38,4% no universo total de brasileiras, sendo que neste último ano foi atingido o maior índice percentual histórico.

Em outras palavras, quase quatro entre dez mulheres brasileiras decidiram não ter filhos!

Ou seja, desde o começo da década passada à metade da atual década, essa tendência se consolidou, especialmente em faixas etárias tradicionalmente mais receptivas à maternidade pela idade e/ou pela construção de relacionamentos mais duradouros.

O maior percentual entre as faixas etárias ocorre exatamente entre mulheres de 20 a 24 anos (subiu de 56,8% para 63,10%, sete pontos percentuais) e entre 25 e 29 anos (elevação de oito pontos percentuais, subindo de 32,5% para 40,6%).

Os dados são significativos e, como disse no começo, sugerem e permitem inúmeras interpretações.

Há, evidentemente, o novo papel da mulher na sociedade brasileira, como a responsabilidade de sustentar, sozinha, pelo menos 40% dos lares brasileiros, por exemplo.

Há, também a questão econômica e a conquista de seu espaço no mercado de trabalho, cada vez mais crescente, apesar das discriminações e preconceitos de toda ordem – salarial ou de não contratações pela possibilidade de gravidez, para citar duas.

Poderia, ainda, citar dois aspectos relevantes: as jovens mulheres de hoje contam com um suporte familiar infinitamente menor do que antigamente; e o Estado brasileiro não oferece os serviços que deveria, como creches escolas em tempo integral.

Não se pode desprezar a conquista comportamental obtida pelas mulheres nas últimas quatro décadas do século passado com enorme reflexo nos dias de hoje.

Hoje, felizmente, a mulher tem muito mais poder e liberdade para ela própria optar por um planejamento familiar que atenda melhor a seus projetos profissionais, pessoais ou de qualquer outra ordem.

A palavra final está sendo, cada vez mais, dela própria, com uma enorme redução do poder masculino nesta esfera de decisão, quadro muito distinto do que vivenciaram mulheres das gerações anteriores.

A crescente escolaridade das mulheres e o acesso a mais informações e oportunidades de trabalho, a maior independência econômica dos parceiros também contribuem, e muito, para que isso ocorra, felizmente.

Mas, como disse, estas são algumas das interpretações das estatísticas que ajudam na discussão de um tema caríssimo as mulheres brasileiras, especialmente as mais jovens.

*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB