Momentos de crise aguda como a que o Brasil ora atravessa também podem se converter em grandes oportunidades de mudança. Neste aspecto, a agenda pública deve contemplar a reinvenção da economia, com a exploração de novas vertentes e novas culturas. É o que acontece com a chamada economia criativa.
Trata-se, segundo definição da ONU, de “modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e renda”. A economia criativa tem tudo a ver com a globalização e as modernas tecnologias de comunicação.
O conceito foi criado há 20 anos e vem seduzindo formuladores de políticas públicas interessados em gerar modos mais sustentáveis, criativos e inclusivos de produção. Segundo relatório da Unesco e da consultoria EY publicado em 2015, a espinha dorsal da economia criativa são setores como artes visuais, publicidade, games, moda, design e informática.
São, como se percebe, ramos de bastante apelo junto à juventude – faixa etária onde o desemprego já supera 26% no país, o que reforça a necessidade de impulsionar as atividades ligadas a estas vertentes. A economia criativa converte-se, assim, numa importante porta de entrada para o mercado de trabalho.
O PIB da indústria criativa brasileira chegou a R$ 126 bilhões no fim de 2013, o equivalente a 2,6% do PIB total do país, segundo levantamento da Firjan. Em apenas uma década, mesmo com turbulências econômicas, o setor cresceu 70% e empregava 900 mil profissionais em 2013, último dado disponível.
Na semana passada, o Instituto Teotônio Vilela reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros para discutir o assunto. Uma das conclusões é que os novos ramos que estão mudando a economia também podem tornar nossas cidades mais humanas e mais agradáveis para se viver. Ou seja, economia criativa também deve ser pauta dos gestores municipais, às voltas com uma nova eleição daqui a menos de 90 dias.
Quem pensa o Brasil do futuro precisa considerar a estruturação de políticas públicas para impulsionar a economia criativa no país, com prioridades de investimentos e estratégias para ordenar as relações entre economia, cultura, inovação e desenvolvimento. O potencial é imenso: na Inglaterra, estes segmentos já respondem por 8% da economia local e em Berlim chegam a 20%.
Há experiências bem-sucedidas, à espera de serem replicadas no país. Nesta agenda, o relevante, da parte do poder público, é que se diminuam as burocracias e sejam agilizados os processos de licenciamento. Linhas de crédito já disponíveis devem ser direcionadas a dinamizar startups e fomentar incubadoras de jovens empreendedores. A economia criativa também pode estar nos currículos escolares. Aí está, certamente, o PIB do futuro.