Selada no acordo de paz que pôs fim a Segunda Grande Guerra, a Declaração Universal dos Direitos Humanos deixou um profundo legado para a vida social, que completa 67 anos este mês. Ao reler o texto, relativamente curto para um código com pretensões mundiais, o que mais chama atenção é o reduzido saldo de conquistas, desde que as regras ali postas entraram em vigência.
Mesmo compartilhadas por tantas nações, as diretrizes básicas e os direitos fundamentais que assistem os seres humanos ainda estão muito distantes das práticas sociais. Os 30 artigos que integram o documento propõem, entre outras metas, o fim do terror e da miséria, o respeito à diversidade e à liberdade de pensamento, manifestação e religião, o direito ao lazer, à cultura e à educação gratuita, ao menos no nível fundamental.
Mas basta percorrer setores mais simples de nossas cidades para percebermos que a fome ainda persiste; que a educação de qualidade é luxo para poucos; que a cultura popular é engolida pela cultura do consumo; e que a paz é flagelada pelos altos índices de violência, fomentados pelo narcotráfico e por grupos que agem à revelia das leis e do Estado.
Vemos também a intolerância, a hostilidade, a discriminação e o racismo, quase sempre impunes, exacerbados nas redes sociais. Presenciamos o meio ambiente massacrado pelo crescimento de empresas, sem qualquer compromisso com a qualidade de vida e a sobrevivência do planeta. Vivenciamos o massacre do direito à vida e à liberdade no trânsito, nos crimes domésticos e nos assassinatos à queima roupa, em espaços públicos.
E a responsabilidade por tudo isso? No Brasil, creio ser correto culpar a inoperância do Estado, relacionando-a a práticas políticas corrompidas, que sustentam partidos políticos antes, durante e após as campanhas eleitorais. Hoje, sem qualquer pudor, políticos zelam e lutam entre si por interesses próprios, sem empregar qualquer energia na universalização de direitos coletivos e no compromisso com o crescimento social e político do país.
Mas a sociedade também tem seu papel. O cidadão é naturalmente o protagonista de qualquer grande mudança. Na medida em que agrega forças, o comportamento humano pode ganhar proporção tal que sedimenta novas formas de condução da “coisa pública” por ser capaz de influenciar inexoravelmente a política.
Por ser ainda uma jovem democracia, o Brasil precisa desenvolver parâmetros de convivência coletiva, sedimentados nos Direitos Humanos. Isso vai além do debate em redes sociais que, por vezes, ganha feição autoritária e retrógrada.
Todos precisam buscar o respeito aos direitos fundamentais em todos os aspectos de nossas vidas, seja no âmbito privado e em nosso comprometimento profissional, seja na denúncia e na cobrança junto aos órgãos públicos, seja na não aceitação da violência, no trabalho voluntário pela comunidade e no envolvimento nas causas coletivas.
Temos um longo caminho a percorrer. Não podemos deixar que a lamentação e a crítica rasa nos ceguem e nos impeçam de fazer, nós mesmos, um novo futuro.
*Dra. Cristina Lopes Afonso é vereadora pelo PSDB e presidente do PSDB Mulher de Goiânia