O titulo desse artigo – “Nós podemos, eu posso e o governo pode, se quiser” – comemorativo do Dia Mundial do Câncer, no dia 4 de fevereiro – é extremamente sugestivo e realça a importância de agirmos, tanto individualmente quanto coletivamente para defender nossa saúde; entretanto, também questiona a inação do poder público brasileiro.
Iniciativa da UICC (União Internacional de Controle do Câncer) no Brasil protagonizada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar da Silva, a campanha mundial alerta a população de maneira geral sobre a doença e seu combate, da prevenção ao tratamento, e pretende que as pessoas vençam o preconceito existente e falem abertamente sobre ela.
Nesse ano, o dia 4 de fevereiro coincide com a véspera do carnaval, o que não impede os agentes públicos, as Organizações Sociais e a sociedade, de colocar nas ruas a campanha mundial para mobilizar as pessoas a se prevenir e combater a doença que somente no Brasil mata cerca de 200 mil de pessoas por ano. No mundo, são 8,2 milhões anualmente!
A previsão é de que no decorrer desse ano teremos no Brasil mais 596 mil casos de pessoas diagnosticadas com a doença, a maioria de mulheres com exatos 300.087 notificações, liderados pelo câncer de mama, que responde por 20% do total feminino.
Sim, claro que “eu posso”, como você pode adotar práticas e comportamentos diários que melhorem a nossa qualidade de vida, a nossa saúde com uma dieta alimentar equilibrada, com exercícios regulares, enfim com uma vida saudável. É arbítrio nosso cuidarmos cada vez mais e melhor do nosso corpo e de nossa saúde.
Do mesmo modo, “nós podemos” unir nossas forças e socialmente lutarmos por uma conscientização do perigo que o câncer representa, apesar de todos os avanços da medicina e de tratamentos preventivos, com tratamentos precoces.
Apoiar campanhas do “Dia Mundial do Câncer” é apenas uma das maneiras importantes de agir, mas precisamos pressionar o governo federal e cobrar ações concretas para a prevenção e o tratamento da doença.
No Brasil, infelizmente, 60% dos pacientes com câncer foi diagnosticado tardiamente, em estado avançado, o que reduziu a possibilidade de um bom tratamento que leve à cura.
Para se ter uma ideia dessa trágica situação: no país, o tempo médio de espera entre o diagnóstico e o começo do tratamento com quimioterapia ou radioterapia demora de 76,3 dias e 113,4 dias respectivamente, quando a lei estabelece dois meses.
No caso das mulheres, metade dos cânceres de mama é tardiamente diagnosticado, o que reduz a capacidade de sobrevivência da paciente.
Portanto, se quiser, o governo pode mais.
Faltam centros especializados e equipamentos adequados, há carência de especialistas, há demora na marcação dos exames e as filas de espera são intermináveis.
Em outras palavras, à brasileira e ao brasileiro é negado, diariamente, o sagrado direito à vida porque não há acesso rápido, indispensável e essencial para eliminar ou minimizar a doença e seus efeitos.
Então, por mais que eu possa que você possa que “nós podemos”, o Estado brasileiro ainda “pode mais, se quiser”, para melhorar a vida da pessoa portadora da doença.
*Thelma de Oliveira é vice-presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB