Provérbio da Língua Portuguesa, que virou refrão de música de Ney Matogrosso, a expressão “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, é significativa, segundo os dicionários e a sabedoria popular, da situação de uma pessoa que se encontra – outra expressão popular – “num beco sem saída”.
Indecisa sobre o rumo a tomar, essa pessoa titubeia entre um lado e outro e quando toma a decisão sabe que pode estar se enganando e adotando o caminho errado para a realização dos seus desejos.
Esse vem sendo o dilema da presidente Dilma, sobretudo nos últimos meses. Sem credibilidade popular, vendo seus índices de popularidade despencar e a economia cada vez mais revolta, a presidente está perdida “como um cego em tiroteio” sobre o que fazer com o PMDB, maior partido de sustentação do seu Governo. E, pelo visto, apesar de ter adotado posturas diferentes, todas infrutíferas, nada leva crer que a atual vá dar em alguma coisa.
Primeiro a presidente apostou no vice Michel Temer, oferecendo-lhe a coordenação política do Governo que deu no que deu. Sentindo-se desautorizado Temer entregou o boné e a fatídica carta de rompimento deixando tonto todo o Palácio do Planalto.
Depois Dilma bandeou-se para o lado do insurreto presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Foi uma relação de tapas e beijos que findou com Cunha, acossado pela interferência do Planalto na cooptação do líder Leonardo Picciani, ajudando a eleger uma comissão do impeachment contrária aos interesses palacianos.
O resultado, todos já sabem. O PMDB tornou-se a pedra no sapato da presidente o que é meio caminho andado para a aprovação do impeachment. Não fosse a decisão do ministro Fachin de parar momentaneamente o processo, a esta altura a queda da presidente poderia estar com os dias contados.
Dilma não se deu por vencida e agora lança uma nova peça no xadrez: o presidente do Senado, Renan Calheiros, que, como Cunha, pode ser fisgado a qualquer hora pela operação Lava Jato.
Renan, em aparente confronto com Cunha, quer agora que o Senado assuma o processo do impeachment, tirando o poder da Câmara Federal, o que é caldo de cultura para gerar uma situação explosiva entre as duas casas do Congresso, suficiente para tirar o sono do mais indolente dos mortais.
O bicho Cunha e o bicho Renan – na expressão tosca do provérbio acima citado – são faces da mesma moeda. Companheiros de longa data podem se recompor rapidamente se se sentirem conjuntamente ameaçados e mandar, juntos, “a vaca para o brejo”, unindo o PMDB contra Dilma e tornando a situação da presidente insustentável.
Suspeitas existem. Porta-vozes do Palácio do Planalto já vazaram para a imprensa que o entorno da presidente acha que pode estar dando poder demais a Renan, ajudando-o a levar o assunto para o Senado e vir a ser vítima do senador mais para a frente. Como foi de Cunha.
Difícil saber, mas como “gato escaldado tem medo de água quente” fica claro que apostando em Renan, Dilma buscou a saída que podia, mas na qual sabe que não pode confiar.
Pode “dar com os burros n’água”, afinal a presidente e seu infortúnio que de tão atroz se enquadra em quase todos os provérbios catastróficos da Língua Portuguesa, está perecendo uma “barata tonta”. Perdeu o prumo e parece que também a cabeça.
*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher-PE