Minha mãe faria 93 anos na semana passada, mas partiu no domingo de Carnaval. Deixou em mim uma saudade imensa e lições de coragem. Dinah ainda não tinha 30 anos quando fugiu do marido, que batia nela. Largou o lar em Campos, Estado do Rio de Janeiro. Deixou seus bens – e, um deles, o maior. Deixou o filho mais velho, levou no colo o menor, bebê. Tinha medo de ser perseguida e morta se levasse os dois filhos. Os irmãos dela a convenceram a agir assim. “Leve só o bebê, senão ele vai atrás de você!”
Não posso nem imaginar sua dor. Não havia divórcio nos anos 1950. Minha mãe veio para o Rio trabalhar com meu avô. Era “desquitada”. Sinônimo de tantos adjetivos depreciativos naqueles tempos. Linda morena, vista como “ameaça” pelas casadas, vista como “fácil” pelos casados. Nem a Igreja a aceitava. Católica ao extremo, perdera o direito de comungar. Foi quando conheceu meu pai na plateia de uma peça de teatro.
Apaixonaram-se à primeira vista. Ele, solteiro, enfrentou a oposição materna para se juntar a minha mãe. Minha avó paterna, gaúcha, era um poço de rigidez. Não via com bons olhos a união de seu caçula com uma desquitada com filho. Resignou-se, mas não me lembro de ter visto minha avó sorrir nas visitas dominicais. A união de meus pais produziu duas filhas e se estendeu “até que a morte os separou”, em fevereiro.
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