Desde a semana passada, está em marcha à costura de um acordo com intuito de dar alguma sobrevida ao governo da presidente Dilma Rousseff. A movimentação inclui parte do Congresso, alguns empresários e banqueiros de peso, entidades patronais e classistas, movimentos sociais e até parte da Justiça. Este toma lá dá cá não interessa à sociedade brasileira.
Os movimentos começaram de forma subterrânea e ganham a luz do sol quando o presidente do Senado apresentou uma lista tão desconjuntada quanto oportunista com propostas de projetos e leis para o país. Em paralelo, manifestos públicos em favor da governabilidade começaram a circular, fazendo coro ao apelo do vice-presidente em favor da “unidade” nacional.
Ato contínuo, tribunais federais tomaram seguidas decisões que, de uma maneira ou outra, favoreceram a presidente da República. Primeiro, o TCU deu mais tempo para Dilma se defender das irregularidades identificadas na sua gestão. Depois, o STF determinou ritos mais restritos para aprovação das contas presidenciais pelo Congresso e, por fim, o TSE retardou a análise sobre as ilegalidades cometidas na campanha que reelegeu a chapa Dilma-Temer. Tudo isso em quatro dias.
Agora, fechando o ciclo, o governo anuncia que voltará a colocar dinheiro público para socorrer setores da economia em apuros. Começará pela indústria automobilística (sempre ela!) e caminhará para beneficiar mais uma dezena de segmentos, como construção civil, eletroeletrônicos, telecomunicações, papel e celulose, fármacos e químicos, alimentos, petróleo e gás, energia, máquinas e equipamentos.
Ressurge, desta maneira, um dos esteios da mesma política econômica que produziu a ruína do primeiro mandato de Dilma e legou ao país o desarranjo que hoje grassa nas contas públicas. O dinheiro do crédito barato para as empresas, mais uma vez, virá de fontes públicas, como o FAT e o FGTS – o mesmo que, até 2019, continuará pagando uma ninharia à poupança forçada dos trabalhadores…
Para o governo, isso é o de menos. O mais relevante parece ser que o acordo que começou a ser costurado há dez dias fechou um giro completo. A presidente ganhou fôlego, parte da base aliada no Congresso se realinhou, empresários ficaram felizes ao receber mais crédito e os tribunais tiraram o pé do acelerador. Faltou apenas combinar com os milhões de brasileiros insatisfeitos que voltaram a ocupar as ruas de todo o país.
Acordos políticos não são, necessariamente, deletérios. Desde que, efetivamente, levem em consideração os anseios da população e busquem produzir resultados em prol do país e dos cidadãos. Não é o caso deste. Neste momento, o único acordo desejável é o que une a sociedade em defesa das instituições e da Constituição para que os erros, as ilegalidades e as roubalheiras ocorridas nos últimos anos no Brasil sejam rigorosamente investigados e exemplarmente punidos. Este, o governo e seus aliados certamente não querem.