“En el altiplano andino, mama es la Virgen y mama son la tierra y el tiempo.”
Essa frase de Eduardo Galeano ficou ecoando na minha mente quando recebi o convite pra escrever um texto para o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Ia declinar do convite dizendo que não me sentia diferente por ser mulher, e sendo mulher latino-americana me sentia igualzinha às mulheres inglesas e alemãs.
Mas Galeano gritava: Mãe, Terra, Virgem, Tempo. Pachamama (a mãe Terra), Eva, Maria, Lua, fases, ciclos, útero, caverna, proteção, transformação… As palavras rodopiando na minha cabeça, como numa dança ancestral. As danças sagradas são sempre circulares, como a Terra, a barriga, o ovo…
Não conseguia pensar em “mulher”, mas em “feminino”. Não queria escrever sobre a fragilidade da mulher e também não podia, por motivos óbvios para qualquer brasileiro ou argentino, enaltecer a honestidade e competência das mulheres. Neste ponto, acredito eu, mulheres e homens são iguais. O que nos diferencia é alguma coisa que nos vai dentro do ventre e que eu não sei nomear. Alguma coisa de Sagrado e consagrado, de nutrição e de cura, de instinto e de força.
Nossa Senhora de Guadalupe, a virgem negra, é a padroeira de toda a América Latina. Negra também é Nossa Senhora de Aparecida, a padroeira do Brasil. Amor incondicional, beleza, paciência, gratidão, luz, coragem e dedicação são sempre representados por alguma imagem feminina. Mas a força da mulher não é só etérea e divina. Leila Diniz, Frida Kahlo, Anita Garibaldi, Luiza Mahin, Remedios Varo, Annie Lumpkins, Maria Quitéria… Mulheres inteligentes e fortes que mostraram sua coragem e talento no dia-a-dia. Mulheres que nunca se sentiram intimidadas ou diminuídas e foram mais longe do que muito homem. Faith Whittlesey, ex-embaixadora dos EUA na Suiça e ex-assessora de Ronald Reagan tinha uma frase ótima: “Lembre-se, Ginger Rogers fez tudo que Fred Astaire fez, mas de costas e de salto alto.”
Mas é de D. Ruth Cardoso que eu gostaria de falar e a quem eu gostaria de agradecer por representar tão bem a inteligência e solidariedade feminina. Criadora do programa Comunidade Solidária de combate à exclusão social e pobreza (a partir de uma visão emancipatória e não populista), precursora do programa Bolsa Família com o Programa Nacional de Renda Mínima, ativa em “novos movimentos sociais”, como ela gostava de chamar, lutou pelos movimentos feministas, étnico-raciais e de orientação sexual, fundadora da ONG Comunitas que atua em projetos de defesa da democracia e de responsabilidade social, foi mãe, esposa, amiga, companheira, professora, educadora, empresária, guerreira, solidária. Um exemplo de mulher com M maiúsculo, mas antes de tudo um exemplo de ser humano.
Tornando público meu respeito e admiração por Dona Ruth Cardoso espero que novos exemplos como ela surjam e nos apontem um caminho. Que, inspiradas nela, mais mulheres despertem sua essência geradora e criadora. Que livres de conceitos e estereótipos as mulheres – todas as mulheres – tomem consciência do seu poder e deixem sua marca de amor e de proteção na nossa história.
Que nossas Santas e Deusas nos abençoem e abençoem nossa capacidade de ir além e gerar prosperidade, harmonia e abundância. Que possamos ser sempre fiéis à nossa essência criativa, generosa e amorosa, sem nunca perder a coragem para defender a vida, a liberdade e a alegria.
*Luciana Arraes tem 46 anos, é carioca, estatística e administradora de empresas e faz parte do PSDB MULHER municipal/RJ
**Fonte: PSDB-Mulher RJ