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“A nudez crua da verdade”, por Rosiska Darcy de Oliveira

 

Rosiska-Darcy-de-Oliveira-Foto-Divulgacao-.jpgDesalento e desesperança estão no ar. Ambos são tóxicos e maus conselheiros. Conduzem à paralisia ou ao cinismo do salve-se quem puder.

Sem minimizar o peso que a corrupção da política e os desastres da economia têm no cotidiano de cada um é bom lembrar que, por maiores que sejam os desgostos que provocam, o Brasil não se esgota na Praça do Três Poderes. A vida é feita de luzes e sombras e se só enxergarmos as sombras estaremos pecando por omissão. Há uma leitura possível dos fatos que é produtora de sentido e renovadora de esperança.

Saint Exupéry conhecia o poder constituinte da esperança. “Quem quiser construir um barco, não comece por juntar as madeiras, cortar as tábuas e distribuir o trabalho, e sim por despertar nos homens o desejo do mar aberto e infinito”.

É esse desejo de um novo horizonte, a dimensão da esperança, que já não conseguimos experimentar. Colados à temporalidade vertiginosa da notícia, a vista vai ficando míope. Sabemos tudo e imediatamente sobre a cotação das bolsas e os escândalos do dia. Telas divididas em quatro informam sobre quatro continentes, mil amigos na internet filmam o que acontece em cada esquina. A enxurrada de informações transborda da capacidade de processamento e nos deixa órfãos de sentido.

Essa subversão contínua do imediato por outro imediato, essa aceleração patológica não dá chance ao pensamento de amadurecer. Vão ficando à margem questões essenciais. Em que tipo de sociedade queremos viver? É possível escapar à violência de todos contra todos? Que novos atores estão influindo no destino do país? Questões que pedem maturação quando os velhos arcabouços ideológicos estão caindo de podres.

O cenário político é degradante, com dois ex-presidentes da República e os presidentes da Câmara e do Senado sob investigação da Justiça. Em compensação temos um Poder Judiciário que funciona. A coragem de juízes e procuradores que conduzem a operação Lava-Jato redime o país das bandalheiras que a operação vai revelando. O país que eles desvelaram não teria existido se o Judiciário tivesse sempre atuado como está atuando agora. Daqui para frente será bem mais difícil debochar da lei e transformar o Congresso em esconderijo.

Os brasileiros em sua esmagadora maioria ganham suas vidas com trabalho honesto e mal visualizam as cifras delirantes envolvidas na roubalheira de que ouvem falar. A indignação dessa população cresce a cada dia, alheia às querelas intramuros de partidos decadentes. É dela e, sobretudo, da juventude, que não se reconhece no Brasil que estertora, corrupto e carcomido, que virá a invenção de contextos originais de participação e a renovação de lideranças para governar o pais.

Clique AQUI para ler a íntegra do artigo publicado no dia 18 de julho de 2015 em O Globo