Artigo da deputada federal Geovânia de Sá (PSDB-SC)
O dia 8 de março é uma data marcada por comemorações, por reflexões e pela certeza de que a mulher conquistou seu espaço, está inserida na sociedade, mas falta muito para um tratamento igualitário em relação aos homens. O dia Internacional da Mulher é dedicado àquelas que ao longo dos anos foram conquistando seu espaço e provando, muitas vezes com luta e sofrimento, que o sexo feminino não constitui fragilidade. Historicamente machista, a sociedade limitou a participação feminina e atribuiu como trabalho da mulher apenas a criação dos filhos e a realização dos serviços domésticos. Cansada de ser marginalizada e ciente de sua capacidade, a mulher avançou contra o preconceito masculino e na ânsia de conquistar o que lhe é de direito, ela foi acumulando funções e, além de cuidar da casa e dos filhos, deixou de ser coadjuvante, para ser agente da história. Deixou de ser apenas a grande mulher escondida por detrás de um homem, para ser observada e reconhecida como pessoa, repleta de erros e acertos, mas digna de merecimentos por sua capacidade resolutiva a frente de qualquer setor da sociedade.
Olhar para o passado, principalmente no que nos remete ao dia 8 de março, quando mulheres trabalhadoras de Nova Iorque foram mortas, é sempre um exercício de consciência. Trazer esse contexto para a história da mulher no Brasil também significa refletir sobre os avanços da participação feminina. Por que mesmo executando a função equivalente, muitas vezes com mais propriedade, o salário das mulheres ainda é menor do que os dos homens? O último levantamento feito pelo IBGE apontou que a mulher brasileira ganha quase 27% a menos que o homem. No meu estado, Santa Catarina, a diferença sobe para quase 36%. O que será que falta provar?
Embora muitos avanços tenham sido alcançados com a Lei Maria da Penha, hoje no Brasil ainda contabilizamos 4,4 assassinatos a cada 100 mil mulheres, número que coloca o país no 7º lugar no ranking mundial. A Lei existe para ser cumprida, mas ainda há muita impunidade.
Na política a discrepância entre a participação feminina também é latente. Desde 1932, quando ganharam o direito ao voto, as mulheres vêm abrindo espaço nas fileiras políticas de nossa democracia, mas de forma absurdamente tímida. Para ilustrar esse acanhamento e ainda sem entrar no mérito dos motivos que apontam tal diferença, basta trazer os números desta casa. Em um universo de 513 parlamentares, somos apenas 51 mulheres, não chegamos a 10% do número total de deputados. Em Santa Catarina somos apenas duas representantes e em 83 anos de participação feminina, fui a primeira mulher eleita no sul catarinense. No Brasil, estados como Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe não elegeram uma única mulher nesta legislatura. Temos, amparadas por Lei, o direito de sermos 30% dos candidatos, mas por que elegemos tão poucas mulheres? Culpa delas, porque não buscam seu espaço? Ou culpa dos homens que mesmo de forma velada, intimidam a participação efetiva feminina no planejamento partidário e inserem a mulher no processo nas vésperas dos prazos eleitorais, apenas para cumprir uma exigência legal, sacramentando o insucesso da candidatura?
A evolução da representatividade feminina, não só no nosso país, foi, sem dúvida, a mais profunda e definitiva transformação social ocorrida ao longo do século 20 e precisamos impulsioná-la ainda mais no século 21. Se não há mais nada a ser provado, é lógico e pontual que devemos criar mecanismos para aumentar a participação feminina na política e nas decisões que pautam o desenvolvimento desse país. É necessário que possamos auxiliar na equiparação salarial entre homens e mulheres e, sobretudo, é especialmente indispensável a diminuição dos índices de violência que ainda corroem a expectativa feminina de vida e crescimento.
A mulher não é um sexo frágil. A mulher é parte integrante da sociedade e sua superioridade se confirma porque além da capacidade de realizações equivalente aos homens, ela ainda possui a exclusividade de gerar vida. Por tudo isso e pela glória da missão que lhes foi dada por Deus, convido todas as mães, avós, esposas, amigas e companheiras, a mudarmos a realidade que está posta e a assumirmos nosso verdadeiro papel de agentes da história brasileira.