
O Brasil registrou um aumento de 2,5% nos homicídios de mulheres entre 2022 e 2023, revelando uma preocupante tendência do agravamento da violência de gênero, mesmo diante da queda geral nos homicídios no país. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (12) pelo Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base em registros do Ministério da Saúde.
De acordo com o estudo, 3.903 mulheres foram assassinadas em 2023 — o que representa uma média de 10 mulheres mortas por dia. Enquanto o número geral de homicídios no Brasil alcançou sua menor taxa em 11 anos, com 21,2 casos por 100 mil habitantes, a letalidade dirigida às mulheres, sobretudo às mulheres negras, cresceu, revelando as marcas persistentes do machismo e do racismo estrutural na sociedade brasileira.
“Os números evidenciam o trágico encontro entre a cultura patriarcal e o racismo estrutural”, afirma a publicação, que classifica a violência de gênero como histórica e desproporcionalmente direcionada a pessoas pretas. Das mulheres assassinadas em 2023, 68,2% eram negras — 2.662 vítimas — e em estados como o Amapá, a desigualdade racial foi ainda mais acentuada: 100% das vítimas eram negras.
A região Norte concentra algumas das taxas mais alarmantes, como em Roraima, onde a taxa de homicídios femininos chegou a 10,4 por 100 mil habitantes — três vezes acima da média nacional.
Ambiente doméstico: espaço de risco
O Atlas também revelou que, no Brasil, a casa segue sendo um dos locais mais perigosos para mulheres. Em 2023, 35% dos homicídios de mulheres ocorreram dentro da própria residência — e 64,3% dos feminicídios registrados tiveram como cenário o ambiente doméstico.
A Lei do Feminicídio, sancionada em 2015, define esse crime como o assassinato de mulheres motivado por razões de gênero, frequentemente associado à violência doméstica e ao desprezo pela condição feminina. Estima-se que 1.370 das mortes de mulheres em 2023 se enquadram nesse contexto.
Violência não letal também cresce
O Atlas ainda traz um retrato detalhado das violências não letais contra mulheres. Em 2023, foram registrados 275.275 atendimentos a mulheres vítimas de violência, um aumento de 24,4% em relação a 2022. A maior parte (64,3%) foi de violência doméstica, afetando especialmente meninas e mulheres jovens: uma em cada quatro vítimas tinha entre 0 e 14 anos.
Entre meninas de 0 a 9 anos, a negligência foi a forma mais comum de violência (49,5%). Já na faixa dos 10 aos 14 anos, a violência sexual predominou (45,7%). A partir dos 20 anos, a violência física se torna a mais recorrente, embora dê lugar à negligência em idades mais avançadas. Entre mulheres com mais de 80 anos, 57,2% dos atendimentos por violência doméstica foram por negligência — forma extrema de abandono.
Subnotificação ainda esconde a real dimensão da violência
Apesar dos números alarmantes, o Atlas da Violência destaca que os dados ainda são subnotificados, seja por falhas no preenchimento das fichas de notificação nos serviços de saúde, seja pelo medo e insegurança das vítimas em denunciar. Enquanto o Sinan registrou 16.460 atendimentos de violência sexual contra meninas e mulheres em contexto doméstico, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública contabilizou mais de 54 mil casos de estupro e estupro de vulnerável, sendo 70,6% cometidos por familiares ou parceiros.
Compromisso com o enfrentamento da violência de gênero
O PSDB-Mulher manifesta profunda preocupação com os dados revelados e reafirma seu compromisso com políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres. É urgente fortalecer os mecanismos de proteção, ampliar a rede de apoio e garantir o acesso à Justiça e à saúde para todas as vítimas.
A luta por uma sociedade mais segura e igualitária passa pela erradicação da violência de gênero em todas as suas formas — e isso inclui o combate à impunidade, o enfrentamento do racismo e o investimento na educação, prevenção e autonomia das mulheres.
A cada mulher assassinada, agredida ou negligenciada, o Estado e a sociedade falham. Não podemos mais aceitar que o lar seja um espaço de medo. Precisamos agir com firmeza e urgência.