O cenário político brasileiro tem presenciado um aumento expressivo na eleição de prefeitas nos últimos 20 anos, com destaque para as regiões Nordeste e Norte. De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 2.369 mulheres foram eleitas para chefiar prefeituras em 2.011 municípios, com 33% delas reeleitas, resultando em 3.260 mandatos. O número de prefeitas eleitas cresceu significativamente, passando de 318 em 2000 para 676 em 2020, o maior número registrado até hoje.
O Rio Grande do Norte e Roraima se destacam com 60% de suas cidades elegendo mulheres para o cargo de prefeita, seguidos por Alagoas, com 54%. Regionalmente, o Nordeste e o Norte lideram com 47% dos municípios sendo governados por prefeitas, enquanto o Sul tem a menor representatividade, com 25%.
Mossoró, município de 265 mil habitantes no Rio Grande do Norte, é um exemplo notável, tendo eleito prefeitas cinco vezes desde o ano 2000. Esse histórico reflete o legado feminino na política potiguar, marcado pela eleição da primeira prefeita do Brasil, Alzira Soriano, em 1928, e pelo fato de Mossoró ter sido a primeira cidade a permitir o voto de uma mulher, Celina Guimarães Viana, em 1927. Entre as prefeitas que fizeram história está Rosalba Ciarlini, eleita em quatro ocasiões (1988, 1996, 2000 e 2016). Ciarlini, que também foi senadora e governadora do estado, enfrentou preconceitos iniciais por ser mulher, mas reconhece que o cenário vem mudando, especialmente com a implantação das cotas de gênero.
Em termos nacionais, outras cidades também merecem destaque, como Boa Vista (RR), governada por Teresa Surita (MDB) em quatro mandatos, e Lauro de Freitas (BA), onde Moema Gramacho (PT), hoje deputada federal, liderou o município por quatro vezes. Flexeiras (AL) e Tenente Ananias (RN) são as únicas cidades do Brasil que só elegeram prefeitas ao longo de sua história.
Entre as capitais, Palmas (TO) se destacou em 2020 com a eleição de Cinthia Ribeiro (PSDB), a única mulher eleita para comandar uma capital naquele ano. Cinthia iniciou sua trajetória política como esposa do ex-senador João Ribeiro e, após sua morte em 2013, concorreu como vice-governadora em 2014. Em 2016, foi eleita vice-prefeita na chapa de Carlos Amastha, e em 2018, assumiu o cargo de prefeita após a renúncia de Amastha. Cinthia relembra os questionamentos sobre sua capacidade para o cargo.
“Quando a gente faz esse comparativo com outros homens que nunca estiveram antes em funções de Estado, das mulheres exige-se muito mais”.
Hoje, ela que preside o PSDB-Mulher e encerra seu mandato como prefeita da capital tocantinense, indicou a técnica em enfermagem Ivanete Lima como vice na chapa de Junior Geo, o candidato do PSDB a prefeitura de Palmas.
A representatividade feminina na política ainda enfrenta muitos desafios, como destaca a diretora do Instituto Alziras, Tauá Pires. Pesquisa realizada pela instituição revelou que 70% das prefeitas eleitas em 2020 já tinham experiência prévia como prefeitas, vice-prefeitas ou vereadoras, ou exerciam cargos de confiança, como secretárias de saúde e educação. No entanto, Pires ressalta que, apesar da qualificação das mulheres, elas enfrentam maiores dificuldades devido à desigualdade no acesso a recursos financeiros, um fator decisivo nas eleições.
Essa análise detalhada, realizada pela Folha de S. Paulo com base em dados do TSE e atualizações dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), mostra que, embora o número de prefeitas ainda esteja distante dos 20.324 prefeitos homens, o crescimento contínuo da presença feminina na política é um passo importante em direção à igualdade de gênero.