É necessária uma profunda reavaliação histórica das relações étnicos-raciais e de gênero estabelecidas entre o padrão dominante não negro e masculino da heteronormatividade e a mulher negra – base da pirâmide social brasileira. Me expresso sim de uma posição favorável, mas o entendimento se faz quando nos tornamos conscientes de que a luta de valorização das mulheres negras é de todos nós.
É primordial intensificar esse debate de direito a voz no seio da sociedade brasileira. Com o principal objetivo de consolidar uma compreensão ampla de que o labor da mulher negra não é apenas identitário, mas sim democrático; temos que pensar na construção e consolidação de um ambiente social desprovido de preconceitos e nos processos de participação social, garantia de direitos e justiça social.
O caminho é longo! E o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, comemorado todo 25 de julho marca a luta da mulher negra pela inclusão nos espaços de poder, contra a violência que as atinge em maior número, contra o preconceito de raça e gênero. Queremos chamar a atenção para a trincheira estruturada pelo racismo no acesso às políticas públicas e enfrentamento à violência letal contra mulheres negras, que segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) cresceu nos últimos anos em 20 unidades da federação.
Apesar do crescente fenômeno social, cultural e político que se espelha na mudança de comportamento dos brasileiros ao se autodeclararem negros, pretos ou pardos, ainda há uma desigualdade que repercute nas barreiras de representatividade de gênero e raça no país. Sim, se afirmar negro ou negra é um ato político, sobretudo diante de um Brasil de racismo velado, recorrente. Que diminui, sexualiza, ridiculariza e reforça estereótipos contra esta mulher.
Lutar contra as opressões da invisibilidade, da pouca representatividade da mulher negra no âmbito dos governos federal, municipal e estadual, bem como a igualmente nociva representação discriminatória da mídia que ainda por vezes insiste em as relegar como seres inferiores, nos faz ter a certeza de que este dia representa sim uma celebração de conquistas, de reverência e exaltação da magnitude e do pensamento crítico da mulher negra e suas contribuições nas ciências, literatura, artes, política e tantos outros campos do conhecimento, mas que ainda temos muito que avançar para valorizar e reconhecer as demandas desse percentual negro e feminino que já abrange mais de 27% da população brasileira.
Queremos que as mulheres negras assumam suas vidas como personagens reais, donas de sua própria história, onde sejam respeitados e humanizados seus direitos e sua dignidade.
*Foi presidente do Tucanafro Nacional. Atualmente é Subsecretário de Enfrentamento as Drogas do DF.