Ao participar, nesta quarta-feira (31/3), do webinário “Mulheres na Liderança contra a Covid-19”, promovido pelo Instituto Alziras em parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), a Associação Brasileira de Municípios (ABM) e o Nexo Jornal, a prefeita de Palmas (TO), Cinthia Ribeiro, falou sobre as dificuldades de ser mulher e gestora em meio à maior crise sanitária da história moderna, causada pela pandemia do coronavírus.
“Posso afirmar que, particularmente como prefeita, ser mulher e estar gestora em um momento como esse, e ter esse sentimento que nós temos, esse instinto maternal que realmente é diferente, nos posicionando a favor e em defesa da vida e da ciência, tem sido ainda mais desafiador”, disse.
“Nosso alinhamento não é político e ideológico. Muito pelo contrário. Nosso alinhamento é a favor de algo que nós não temos como repor, que é a nossa vida”, destacou a tucana.
Cenário de guerra
A prefeita falou sobre a sua rotina e a violência política que tem sofrido após ter virado alvo de ameaças e manifestações por conta da decisão de restringir o comércio não essencial e outras atividades na capital tocantinense, a fim de conter o avanço de casos de covid-19.
“Eu hoje saio de casa, venho trabalhar, continuo visitando as obras, indo aos postos de saúde, às unidades de pronto atendimento, porque a gente tem que estar à frente, mas agora em uma perspectiva diferente. Só posso andar com escolta. Recebo ameaças contra a minha vida, a minha gestão, e uma série de outras coisas constantemente, quer seja em redes sociais, por Whatsapp. Tudo isso nos tira a paz, a tranquilidade”, desabafou.
“Nós, antes de sermos gestoras, não somos super-heróis. Somos seres humanos normais. Defendemos a nossa vida e a de tantas outras famílias. Nem de longe a gente imagina que um dia fosse ser perseguido por estar defendendo a vida de tantas pessoas, defendendo uma causa que é muito nobre”, constatou.
“Jamais imaginava que nós fossemos ter, dentro de um cenário de guerra, outras tantas guerras sendo incitadas, a ponto de colocar a população em um confronto com os gestores locais, ao invés de criarmos soluções, das ideologias serem confrontadas, e até mesmo a nossa liberdade”, acrescentou Cinthia.
Custos do negacionismo
A tucana ressaltou que o caos do atual cenário brasileiro se deve, principalmente ao negacionismo e a falta de direcionamento do governo federal em favor de medidas restritivas como o que aconteceu na Nova Zelândia, que hoje está livre do vírus e retoma a normalidade.
“Em virtude de todo o cenário que a gente vive, e principalmente desse direcionamento de negar o que, de fato, acontece desde o início – de negar os avanços, as medidas restritivas, de negar, inclusive, o poder destruidor de um vírus – nós estamos colhendo, infelizmente, uma falta de alinhamento não apenas dos entes federados, mas uma dúvida muito grande na cabeça das pessoas. Nem de longe a gente conseguiria imaginar que um dia as pessoas fizessem a escolha entre falência de CPF e falência de CNPJ”, lamentou.
Ela lembrou ainda que a falta de logística e planejamento afeta diretamente os municípios, obrigados a arcar com responsabilidades e cobranças que não são suas, e impacta especialmente a vida das mulheres, que estão na linha de frente do combate ao vírus, são a população mais vulnerável aos índices de desemprego e pobreza, e sofrem com o aumento da violência de gênero e feminicídios.
“É necessário avançarmos muito ainda na garantia da segurança dessas mulheres. Não apenas das gestoras, mas das mulheres como um todo. A gente sabe que nesses momentos de crise, sim, a população mais vulnerável, a que mais sente, é justamente aquela com que nós temos que ter um olhar ainda mais carinhoso, de cuidado e de suporte, porque são elas que, de fato, precisam do poder público. E é para isso que o poder público foi constituído”, concluiu Cinthia Ribeiro.
Sobre o debate
Realizado ao final do mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o webinário “Mulheres na Liderança contra a Covid-19” tinha o objetivo visibilizar o trabalho feminino na política para o enfrentamento da pandemia, em prol do fortalecimento do SUS, e em defesa da vida e da ciência. Mediado por Marina Menezes, do Nexo Jornal, e Michelle Ferreti, do Instituto Alziras, o debate virtual também contou com a participação da presidente da Fiocruz, Nisia Trindade, e das prefeitas Renata de Sene (Francisco Morato-SP) e Moema Gramacho (Lauro de Freitas-BA).