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Editorial: “Não há outra alternativa: a defesa da democracia”

Foto: Oam Santos/Fotos Públicas

Opinião. 

Editorial do PSDB Mulher Nacional.

Mesmo desafiando as recomendações de isolamento social dos governos estaduais e municipais para enfrentar o surto de Covid-19, alguns grupos extremistas que vinham dominando as redes sociais passaram, desde a semana passada, a disputar a hegemonia nas ruas marcando manifestações no mesmo dia, horário e local.

O prosseguimento dessas manifestações, algumas acompanhadas de violência, traz novos perigos, a se somar aos do já difícil período em que a economia, em marcha lentíssima, gera desemprego e queda de rendimentos. A hora é de decidir como sair dessa brusca paralisação trazida pelo novo vírus. Há um forte ruído no ar de ataque ao sistema democrático, que tem permitido que avancemos sem rupturas no país, apesar de todas as dificuldades.

De um lado, seguem numa caminhada, que já vem de várias semanas, com apoiadores do governo Bolsonaro, grupos que defendem a intervenção militar, o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional.

Do outro lado, manifestações de grupos que justificam suas saídas à desfesa da democracia ameaçada. Movimentos como os das torcidas organizadas de futebol, e outros como Basta, Juntos e Somos70%, que reúnem pelo menos 32 entidades da sociedade civil organizada, contemplam um amplo leque de forças políticas, que vão do centro à extrema esquerda e extrema direita. No final de semana, houve ameaça de enfrentamento. Nessa altura da crise!

Em jogo, estão as eleições municipais deste ano e seus reflexos sobre a disputa eleitoral de 2022. Assim como os manifestantes bolsonaristas, que vinham sendo financiados por empresários alinhados com o governo, os ‘defensores da democracia’ também buscam financiamento empresarial. Há quem financie essas manifestações.

A divisão da sociedade entre “nós” e “eles”, por movimentos radicais, não teve início agora. Vem numa crescente escalada de fomento a sentimentos de ódio, presente em vários movimentos políticos e sociais. A partir de 2013 foram registradas as primeiras ondas de manifestações populares pelo país. E seguiram até desencadear o impeachment de Dilma Rousseff. Agora marcam o ainda curto período do governo de Jair Bolsonaro nessa radicalização inaceitável para todos os que defendem a democracia.

A reação popular em 2013 foi desencadeada por um fato: o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo. Logo incorporou outras pautas da sociedade, expondo a inconformidade dos brasileiros com a corrupção endêmica e, ao final, com a grande recessão e volta da inflação de 2015, logo ao primeiro ano do governo Dilma reeleito.

Agora, divide-se entre apoiar ou rejeitar as políticas de isolamento para se enfrentar a pandemia da Covid-19. Antes, a divisão se materializava por questões econômicas e de corrupção. Agora, no entanto, a morte avolumando-se em covas coletivas é um fato concreto trazido pela covid-19. A divisão entre apoiadores e opositores do Governo Bolsonaro, que promove o acirramento de ânimos ao criar uma crise ou mais por dia, cresce. Ao optar por governar por conflitos, o governo promove as manifestações que vemos agora, apesar da Covid-19.

Dependendo dos rumos a serem seguidos, a democracia brasileira pode sim estar em risco. Por isso, é preciso estarmos vigilantes e tomarmos posição quando os arroubos antidemocráticos são praticados repetidamente.

Tanto os apoiadores, como os que se opõem ao atual governo, enxergam a origem das ameaças à democracia de forma diferente. A avaliação entre os que defendem o governo é de que o presidente tem sido impedido de governar pelos poderes Judiciário e Legislativo, o que violentaria o desejo de mais de 57 milhões de eleitores que o elegeram em 2018.

Por outro lado, um grupo que soma vários movimentos que reagem à interpretação de setores relevantes do Governo Federal afirmando que a  Constituição, em seu artigo 142, garantiria às Forças Armadas poder para intervir em qualquer dos Poderes constituídos. Essa ameaça que motivou essa outra parcela dos brasileiros a deixar o isolamento para defender a democracia.

A busca de uma autêntica pacificação desse cenário depende de uma mudança de postura e equilíbrio nas ações de atores de ambos os lados, a começar pelos agentes políticos. Defender ideias diferentes das próprias é algo legítimo e não representa necessariamente má fé da outra parte. Quem de nós não conhece um parente ou amigo que discorda da sua posição política? Mas nem por isso ele pode ser considerado mal intencionado ou considerado um inimigo, por ter esse ponto de vista divergentes;

Mulheres como nós, que fazemos política com a visão de centro, persistem em atuar com serenidade e equilíbrio, preparando-nos para enfrentar a primeira eleição virtual da história com propostas.

Propostas concretas para lidar com as gigantescas adversidades do momento reconhecendo que o mundo mudou, que as prioridades são outras, e que as propostas políticas devem mudar na mesma direção: a da união para sairmos da crise melhores do que entramos nela.