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“Os grandes desafios do Brasil no combate ao coronavírus”, por Céumar Turano

Tamanho continental e desigualdade social aumentam desafios do Brasil no controle da covid-19. Não bastassem as desavenças entre setores do governo sobre como lidar com a covid-19 e parte da população desobedecendo as medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem outro desafio para controlar a epidemia do novo coronavírus: seu tamanho continental.

Sua extensão de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, além das desigualdades sociais e regionais, tem como consequência grandes distâncias entre as pequenas cidades do interior — com poucos recursos para tratamentos da doença — e as capitais e grandes centros urbanos, onde estão os principais hospitais e o maior número de equipamentos e profissionais da área médica.

Longas distâncias

Nas regiões onde há pouca oferta de leitos e respiradores, por exemplo, os pacientes graves precisarão ser encaminhados para outras cidades, algumas a até 200 km de distância, que ofereçam o tratamento necessário.

Naturalmente, um país do tamanho do Brasil tem o controle de qualquer enfermidade, de caráter epidêmico ou não, prejudicado. Tudo é longe para quem está fora dos grandes centros. Postos de saúde, assistência médica, acesso a medicamentos, hospitais adequados, laboratórios para diagnóstico e tudo o que se refere à saúde é complicado para quem está distante dos municípios maiores. Então, para estas pessoas, o acesso à assistência vai sempre ser difícil.

Os desafios no combate à covid-19 são a necessidade de enfrentar dificuldades diferentes em cada local e trabalhar sobre múltiplas estratégias. Temos hoje partes do país em distintos momentos da pandemia, com locais já vislumbrando o risco de propagação descontrolada e outros em que a percepção sobre ela talvez ainda não dê conta da ameaça que pode representar. A extensão do país interfere na capacidade de ação das autoridades na tentativa de controlar a expansão e o impacto da doença.

A extensão do país interfere na capacidade de ação das autoridades na tentativa de controlar a expansão e o impacto da doença. Gerenciar uma crise sanitária em um país continental, que tem historicamente negligenciado a saúde da população, não é fácil em tempos de bonança econômica e certamente será ainda mais complicado na situação na qual nos encontramos atualmente.

Diversidade e desigualdade

O Sistema Único de Saúde (SUS), criado em 1988, tem como princípios a universalidade, a integralidade e a equidade dos serviços de saúde, de forma descentralizada, hierarquizada e com participação popular. Tudo isso está em jogo, mais do que nunca, nesta pandemia. Como garantir que os serviços sejam ofertados à população, considerando a diversidade nacional e ao mesmo tempo as particularidades de cada lugar e grupo social? Este é o nosso grande desafio no momento.

O gigantismo do Brasil não é, no entanto, o único problema que dificulta o controle da epidemia no país. Temos ainda a diferente distribuição da população e da riqueza entre as distintas regiões brasileiras. A distribuição dos recursos médico-sanitários acompanha a da riqueza. Há maior concentração de profissionais de saúde e de equipamentos (hospitais, laboratórios, leitos hospitalares e de UTI) nas regiões mais ricas. E dentro de cada uma a distribuição também é desigual, com recursos se concentrando nas cidades maiores.

O maior problema para o controle da covid-19 no Brasil são as profundas desigualdades regionais, encontradas na extensão territorial do país, com os recursos financeiros e econômicos e de saúde concentrados em poucos municípios. Os três que apresentam maior número de leitos se encontram na região Sudeste: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Os diferentes Brasis, ou as distintas condições de vida, prejudicam o acesso à informação de uma forma que todos realmente consigam entender os desdobramentos da pandemia. Além disso, um grande contingente tem dificuldade de acesso à água potável, ou as condições de moradia são insalubres, sem possibilidade de manter os cômodos ensolarados e ventilados, ou que possibilitem o isolamento domiciliar. E há ainda, a questão financeira, que acaba muitas vezes ‘empurrando’ a pessoa para fora de casa na busca de alimento. Por isso, as políticas públicas de distribuição de renda neste momento são tão importantes.

(*) Céumar Turano é jornalista, publicitária e radialista. Graduada “magna cum laude” em Jornalismo pela UFRJ. Tem MBA Executivo (COPPEAD), Mestrado em Psicologia Social e Doutorado em Comunicação e Cultura também pela UFRJ. Atualmente, trabalha no Ministério da Economia e é filiada ao PSDB do RJ.