Estudantes do ensino médio de uma escola em Cascavel, município com 85 mil habitantes no interior do Ceará, descobriram uma forma criativa de colocar em pauta o feminismo e as várias formas de discriminação. As alunas passaram a produzir literatura de cordel, típica da região, baseada nesses temas.
O projeto, batizado de Dice, em referência à deusa grega da justiça, não tem tido impacto apenas na Escola Estadual de Educação Profissional Edson Queiroz, onde estudam. As alunas conseguiram trazer os temas para o debate e mudar algumas dinâmicas escolares e até detalhes do currículo escolar.
Com a iniciativa, a escola foi finalista da premiação nacional Desafio Criativos da Escola 2019, promovida pelo “Design for Change”, movimento global que estimula crianças e adolescentes a expressarem sua criatividade por um mundo melhor.
A iniciativa surgiu em 2017, após um grupo de meninas com entre 15 e 18 anos começou a questionar em aula o porquê de a escola não fomentar discussões sobre empoderamento feminino. Muitas delas relatavam enfrentar situações de machismo cotidianamente.
A notícia logo se espalhou entre as turmas e, de maneira espontânea, mais alunas se mobilizaram. Com orientação de professores, decidiram que usariam o cordel para discutir de maneira didática os diversos papéis da mulher na sociedade e combater situações de preconceito, opressão e assédio.
Na escola Edson Queiroz, as alunas organizaram rodas de discussão e troca de experiências para tratar, por exemplo, sobre as várias formas de machismo, como identificá-lo e como combatê-lo. A partir desses encontros, elas criaram uma apostila em cordel com informações sobre como identificar e combater o machismo. Além disso, conseguiram a inclusão de pensadoras e pesquisadoras no material didático que estudam em sala de aula.
Assim, passaram a estudar obras de autoras que são referência, como Hannah Arendt, Angela Davis e Viviane Mosé. Nem o calendário escolar escapou delas. O Dia Internacional da Mulher, por exemplo, passou a ser debatido não só em 8 de março, como durante todo o ano letivo.
A escola também alterou sua programação para a semana da pátria. No lugar dos tradicionais desfiles, foram promovidos debates, que também incluíram temas como ética, homofobia e racismo.
Como no final do ano havia também um projeto sobre cultura afro, o aproveitaram para trazer as mulheres negras para o centro das discussões. A importância do cordel O cordel não foi escolhido por acaso. Literatura tradicional do sertão nordestino, a linguagem carrega, em suas narrativas, histórias baseadas na realidade local.
*Com informações do Portal UOL.