Desde 1980, quando as crises brasileiras começaram a ser medidas pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil não vivia uma recessão tão intensa como a atual. Nesse período as famílias têm passado por transformações. Muitas mulheres passaram a trabalhar mais para compensar o desemprego do marido e dos filhos. E mesmo desempregados, os homens resistem a fazer tarefas domésticas, o que tem sobrecarregado mulheres levando a ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas.
Para a coordenadora do PSDB-Mulher da Região Sul, Luzia Coppi, existe uma doutrinação de chefia masculina e alerta que essa situação pode levar até a agressão. “A mulher tem essa capacidade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, tem uma capacidade ímpar, mas tem hora que também chega o cansaço e essa situação de ansiedade, afinal, ela é ser humano. O homem que foi doutrinado a ser o chefe da casa, chegar em casa e pôr o pé para cima da poltrona se viu tendo que ter fazer tarefas domésticas e não aceita bem. Isso leva até ao alto índice de agressão a mulher”.
Levantamento feito pelo professor Marcelo Neri, diretor do centro de políticas sociais da FGV para a BBC News Brasil, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), revela que as esposas se saíram melhor do que os chefes de família durante a crise, tiveram aumentos expressivos de renda, horas trabalhadas e participação no mercado de trabalho. Segundo a Pnad de 2017, 72,5% dos que ocupam esse papel são mulheres, além de muitas também exercerem a função de chefes em suas casas.
Entre o segundo trimestre de 2015 e o segundo trimestre de 2018, a renda das mulheres do casal cresceu 17,9% e a renda dos principais responsáveis pelo domicílio, em que a grande maioria é formada por homens, caiu 10,3%. O aumento da renda dessas mulheres também ultrapassou a dos jovens, os que mais sofreram com o desemprego. A renda dos que se identificavam como filhos reduziu 9,6%, nesse período.
“Eu tenho absoluta certeza que nós estamos caminhando para um novo patamar, em que as mulheres estão conhecendo mais seus direitos. Não só empoderar a mulher e deixar com que o homem não entenda do empoderamento, nós temos que fazer um trabalho com os próprios homens para que ele entenda o valor que a mulher tem”, destaca Luzia.