No Carnaval deste ano as escolas de samba da agremiação da Série A do Rio de Janeiro, São Clemente, Paraíso do Tuiuti e Acadêmicos do Sossego vão ter mulheres como vozes principais na Sapucaí. As intérpretes de samba-enredo ainda ouvem insultos machistas como “será que ela aguenta cantar o desfile inteiro?”, mas com talento, elas pisam nas grosserias e preconceitos.
A protagonista do musical Elza, indicada ao Grammy Latino e ex-vocalista da banda Ara Ketu, a baiana Larissa Luz, estreará na São Clemente. Ao lado de Leozinho Nunes e Bruno Ribas, Larissa apresentará uma nova roupagem a um clássico da preto e amarelo nos anos 1990, “E o samba sambou”, enredo que é uma autocrítica do carnaval da Sapucaí, que será reeditado neste ano. “Não adianta chorar, malandragem, que a poeira vai subir. Larissa Luz aqui na área, se segura que eu estou chegando”, disse Larissa nas boas-vindas da agremiação.
A capixaba Juliana tem uma década de experiência na Sapucaí e será a primeira voz na Sossego em 2019. Como apoio, já integrou o carro de som de escolas como a Mocidade Independente, que ela frequentava com o ex-marido, o compositor Igor Leal e com a prima, a ex-rainha de bateria Thatiana Pagung. Ela já foi premiada como melhor intérprete em concursos de samba-exaltação na Portela e corista em dezenas de gravações. Além de cantora, trabalha num salão de beleza e íntegra uma companhia de dança flamenca. Pretendia dar um tempo da folia neste ano, mas o convite da azul e branco de Niterói a fez mudar de ideia.
Grazzi, paulistana do Butantã que tem longa carreira no samba, já passou o carnaval se dividindo entre a Vai Vai de São Paulo e pela Tuiuti do Rio de Janeiro, conta que é difícil, mas é preciso garra. “É muito difícil. Homens e até mulheres duvidam da gente. Tudo acontece para que você se sinta pequena: piadinhas, críticas, comentários ácidos nas redes sociais. Tem que ter garra, se não eles nos derrubam. Mas sou geniosa. Levanto a cabeça, canto e nem ligo mais para isso”.
Assim como Grazzi, a intérprete da Paraíso do Tuiuti, Juliana conta que também enfrentou o machismo no carnaval. Disse que já sofreu preconceito até por ser branca e loira. Pensou em desistir, mas ganhou espaço e agora comemora o atual momento, que ela acredita refletir a vitória da mulher na sociedade. “Levanto essa bandeira. Sei do meu valor, ninguém precisa me dizer”, diz Juliana, que tem como referência Dona Ivone Lara.
*Com informações do Jornal O Globo