
As cenas gravadas no dia 9 de dezembro pelo circuito interno de um condomínio de Brasília chocaram o país e levantou um debate: que exemplo os pais estão deixando para seus filhos? As imagens mostram que as crianças jogavam futebol no prédio até o momento em que o filho do casal agressor sofre uma queda depois de tentar tirar a bola de outro menino. Em seguida, a criança que estava caída é levada por um adolescente ao pai. O homem aparece gesticulando e segura os braços do menino de seis anos para trás. Seu filho, então, lhe dá um soco. A mãe chega ao local e empurra a vítima, que cai no chão. O caso foi levado por uma tia do menino agredido à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Brasília.
A coordenadora jurídica do PSDB-Mulher, Luciana Loureiro (DF), disse ter assistido as cenas estarrecida. Para ela, cabe aos pais ensinar seus filhos a lidarem com conflitos e frustrações, e não incitar a violência.
“A conduta desses pais foi totalmente errada. Mesmo que fosse uma briga entre crianças, elas têm de resolver entre elas. Os pais devem intervir apenas para mostrar que bater ou xingar o coleguinha é errado, se for esta a dinâmica dos fatos, o que não foi o caso nesta situação específica porque a criança caiu sozinha”, disso.
As crianças brigam entre si, dão mordidas umas nas outras, lidam com a raiva e a frustração de uma maneira primitiva. Especialistas apontam que isso se dá porque seus cérebros ainda estão amadurecendo, o controle dos impulsos tem de ser aperfeiçoado e elas precisam aprender que o mundo não deve(ria) se resolver na base da pancada. Luciana Loureiro faz um alerta sobre essa violência exacerbada da sociedade e que isso está sendo transmitido às crianças.
“Violência gera violência. A nossa sociedade está muito sem limite, e talvez esta seja a principal consequência da falta de educação. Temos de ensinar às crianças o respeito ao próximo e até onde vão seus direitos, ensinar princípios. E isso, quem deve fazer são os pais”, frisou.
Diálogo é a palavra-chave nessa discussão, tanto para prevenir casos de violência como para apurar agressões é o que orienta a especialista em psicopedagogia Irene Maluf em uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo. Seja ele o agredido ou o agressor, Irene lembra que não é porque é seu filho que ele tem razão ou está dizendo a verdade.
Irene Maluf, por fim, vê muitos casos em que os pais assumem o lugar dos filhos na resolução de conflitos —justamente como no caso de Brasília.
“Dessa forma, os pais anulam a criança, não deixam que ela mesma resolva o problema e ainda a humilham, porque mostram que ela não é capaz. Lamentei muito esse episódio. O pai quer dar uma de pai herói, de machão, mas a criança não se sente protegida, e sim menosprezada. Hoje todo mundo quer ser amigo, não quer ser pai e mãe e ensinar como agir, como dialogar, e dar limites.”
Novo caso
Nem mesmo a repercussão nacional sobre esse caso em Brasília intimidou a ação de um homem, no Setor Bueno, em Goiânia (GO). O caso aconteceu nessa segunda-feira (17), uma semana depois do caso registrado no DF. José Roberto Furlanetto de Abreu Júnior foi detido após agredir duas crianças, uma verbalmente e a outra, fisicamente tudo porque a criança chutou a bola que o seu filho estava brincando.
“Sou mãe de um rapazinho de 3 anos. A arte de educar não é fácil. Você fica no limiar entre o certo e o errado todo o tempo e em busca do equilíbrio”, conta Luciana Loureiro que continua: “Não basta orientar, a conduta dos pais deve ser condizente com as premissas ensinadas, afinal de contas vivemos de exemplos”, opina.
Reportagem Shirley Loiola, com informações do jornal Folha de São Paulo