
Foi anunciado na última quarta-feira (7), o nome de Silvia Nobre Waiâpi como uma das integrantes da equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro. Aos 42 anos, indígena, nascida no Amapá, Silvia já foi moradora de rua, atriz e atleta antes de se tornar chefe do serviço de medicina física e reabilitação do Hospital Central do Exército, cargo que ocupa desde 2016.
Ainda não foi publicado no “Diário Oficial da União e também não foi confirmado se ela terá cargo remunerado ou será colaboradora. A tenente é uma das quatro mulheres entre os 28 homens que compõem a equipe de transição anunciada por Bolsonaro até o momento.
Silvia foi adotada aos três anos de idade, começou a estudar aos sete, com 13 teve seu primeiro filho e aos 14 fugiu para o Rio de Janeiro em busca de estudo. “Eu passei a minha infância inteira puxando a saia das professoras e pedindo, por favor, para eu hastear aquela bandeira [do Brasil], mas ninguém deixava. Só as crianças brancas e não índias podiam. Eu prometi para mim mesma que, acontecesse o que acontecesse, o meu país um dia iria se orgulhar de mim”, disse em uma entrevista a Jô Soares em 2011, afirmando que foi isso que a impediu de se envolver em “coisas erradas” nos dois meses em que viveu nas ruas do Rio de Janeiro.
Na capital carioca, recebeu abrigo da sobrinha de um ambulante que conheceu na rua . Isso após conseguir se alimentar por alguns dias com o dinheiro da venda de uma pedra que ela tinha em mãos que ela considerava mágica. Depois começou a vender livros velhos até conseguir um emprego na editora Círculo do Livro.
Começou a fazer parte de um grupo de atores, incentivada a estudar artes, se formou em Artes Cênicas com 24 anos. Trabalhou na TV Globo, como aderecista, preparadora de elenco, pesquisadora de texto de novela e por último como atriz. Foi a empregada doméstica ‘Domingas’ na minissérie “Dois Irmãos”, em 2015, onde contracenou com o ator Cauã Reymond.
“Procuravam uma indígena para fazer teste e não encontravam. Aí o produtor de elenco lembrou da minha entrevista [com Jô Soares]. Quando me chamou para conversar é que ele descobriu que já havia feito outros trabalhos na casa”, contou ela ao UOL naquele ano.
Nesse meio tempo, após quase ser estuprada na rua enquanto saiu para caminhar, pensou: “E se um dia eu precisar correr de alguém?”, foi um impulso fez nascer nela uma paixão pela corrida. Se tornou profissional de atletismo pelo Vasco da Gama, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos para cursar Fisioterapia na Unisuam (Centro Universitário Augusto Motta), no Rio.
Como fisioterapeuta e já com várias especializações, um trabalho com um grupo de fuzileiros navais a levou para o mundo militar. Em 2009 tentou pela primeira vez entrar para as Forças Armadas e não conseguiu. Prestou concurso novamente e no ano seguinte passou para marinha e exército. Escolheu o exército e se tornou a primeira mulher indígena militar. Atualmente, como chefe do serviço e medicina, exalta nas redes sociais sua cultura e as necessidades indígenas.
*Com informações do Jornal Folha de S.Paulo