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Emprego formal cresce, mas mulheres perdem mais de 11 mil postos de trabalho

Brasília (DF) – Apesar de alguns dados positivos sobre emprego no Brasil, as mulheres não são poupadas das discrepâncias do mercado de trabalho em relação aos homens. Isso porque, apesar da criação de mais de 46 mil vagas de trabalho formal entre homens no primeiro semestre deste ano, as mulheres perderam 11.279 postos de emprego no mesmo período.

As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), sistema do Ministério do Trabalho.

A flagrante desigualdade, segundo Vagner Bessa, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), se dá porque a maior parte dos novos empregos criados vieram da agricultura, enquanto outros setores, como comércio e indústria da transformação, onde há um maior equilíbrio entre os gêneros, perderam postos.

“É o setor agropecuário que responde bem, e nele a predominância da força de trabalho é masculina”, disse Bessa à coluna Mercado Aberto, do jornal Folha de S. Paulo.

O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) George Sales explicou que os números em setores como o do comércio são ruins, e “precisam melhorar para que haja um equilíbrio na criação de vagas entre gêneros, pois não são funções masculinizadas como a agricultura”.

Para a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS), é grande a discrepância da presença feminina em grandes empresas agropecuárias e entre os pequenos produtores. “As mulheres no setor primário são, na verdade, uma mão de obra importantíssima na pequena propriedade. Nas pequenas propriedades as mulheres estão de igual para igual, entre o homem e a mulher pouca diferença tem, apesar delas acumularem duas ou três jornadas”, afirmou.

“Só que esse dado da pequena propriedade não aparece no Caged. O que aparece na verdade é a procura por mão de obra para carteira assinada. E isso depende muito da safra que está se processando. Outro problema é que o plantio de safra nas grandes propriedades está muito mecanizado, e o serviço que é necessário a partir disso é predominantemente masculino”, acrescentou a tucana.

A parlamentar avaliou que o que torna a discussão de gênero tão importante em um país fundamentalmente patriarcal como o Brasil é que são as mulheres que sempre saem prejudicadas, o que é evidenciado por outro dado do Caged. No caso dos salários iniciais de contratação, mesmo com níveis de competência equiparados, as mulheres ainda recebem 10% a menos que os homens: enquanto a média de salário inicial masculino chegou a R$ 1.522 no primeiro semestre de 2017, a das mulheres ficou em R$ 1.370.

“A gente tem que dar importância ao fato de que a queda sempre pesa mais, o dado negativo, seja de emprego, dados de violência, na categoria ‘mulheres’. Em qualquer setor é assim. Se é preciso demitir, demite-se primeiro, na maior parte dos setores, as mulheres. Até no campo do comércio, por exemplo, que tem quase condição de igualdade na hora do trabalho”, lamentou. “Toda vez que há um dado negativo, ele pesa com muito mais intensidade sob as mulheres, que são as primeiras a serem demitidas, e quem sabe as últimas a serem empregadas. Nosso trabalho é mudar isso aos poucos”, ressaltou a tucana.

Modernização

Yeda Crusius destacou ainda que é por causa dessa desigualdade nos postos de emprego que a modernização da lei trabalhista será tão benéfica, especialmente para as mulheres.

“É por isso que a reforma trabalhista é tão importante. Porque aquele trabalho que não está na carteira de trabalho, o trabalho dentro de casa, o trabalho intermitente, será beneficiado, porque entram na carteira de trabalho vários tipos de ocupação que eram feitas de maneira não formal. Para isso, vamos ter que esperar. Mas vai ser muito bom seguir esse dado quando a reforma trabalhista estiver em pleno vigor, daqui a quatro meses”, considerou.

“Todo aquele trabalho que é feito na agropecuária, a questão do plantio, da colheita, dos operadores de tratores, tem poucas mulheres no serviço das grandes propriedades agrícolas. Agora, no serviço urbano, a reforma será muito benéfica para as mulheres”, completou a deputada.