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“Tributo a Simone Veil”, por Yeda Crusius

É preciso celebrar Simone Veil, sobrevivente do Holocausto e primeira presidente eleita do Parlamento Europeu, em 1979, que morreu no dia 30 de junho na França, e faria 90 anos hoje, dia 13.

Simone, que começou a carreira dedicando-se a melhorar as condições de vida nos presídios franceses, e nunca mais parou de transformar a realidade que a cercava. Ministra da Saúde, teve papel fundamental na descriminalização do aborto – tarefa que lhe foi designada pelo então presidente Valéry Giscard D’Estaing – e dizia lutar pelas 300 mil mulheres que abortavam clandestinamente no país todos os anos. Embora convencida do fracasso que seria fazer aprovar a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, Simone não desiludiu o presidente e se saiu muito bem. Se estava insegura, não demonstrou, debatendo com 490 parlamentares, entre eles apenas 9 mulheres. Após 3 dias de debates em que foi alvo de pesada campanha da direita, acusada de promover o genocídio, foi aprovada a lei que leva seu nome, e a França foi o primeiro país de maioria católica a despenalizar o aborto.

Magistrada, constitucionalista, o feminismo era uma das facetas dessa mulher plural, que se empenhava em todas as causas que mereciam sua atenção apaixonada. O caráter forte, ela atribuía à experiência de sobreviver à Auschwitz, campo de extermínio nazista onde perdeu a família, que a marcou tão profundamente que: “sessenta anos depois, eu ainda me sinto assombrada pelas imagens, os cheiros, os gritos, a humilhação, espancamentos e o céu de chumbo com a fumaça dos crematórios” .

O sofrimento que carregou pela vida, a tornou também uma europeísta convicta, que gostava de dizer: “A Europa por duas vezes arrastou o mundo inteiro para uma guerra. Ela deve encarnar agora a paz”.

Afastada da vida pública nos últimos anos, pela velhice e a doença, em uma de suas últimas aparições públicas Simone conversou com o jornal Libération e disse uma de suas frases de que mais gosto: “Continuo a acreditar que vale sempre a pena batermo-nos por qualquer coisa. Digam o que disserem, a humanidade está hoje mais suportável do que no passado”. É nela que penso, a cada tragédia lida nas manchetes, e sigo em frente.

Simone foi especial, multifacetada, e fez muito pela cultura da paz, da democracia e da união entre os povos. E viverá para sempre no legado de liberdade e força que deixou a cada mulher desta nossa era.

* Yeda Crusius é  economista e deputada federal pelo PSDB/RS em seu quarto mandato. Já ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e Governadora do RS.