Dezembro, último mês deste ano, tem sido intenso na agenda conturbada com que a Lava Jato consegue empurrar o Brasil para seguir adiante. Mas que dificuldade! Quando um país do tamanho do nosso anda de ré, pesadão, carregado, é difícil brecá-lo, para que se possa ligar de novo a primeira marcha e ele suba a ladeira de volta, para a frente, para encontrar uma estrada em linha reta que nos leve a um futuro melhor. Primeiro, é preciso que ele pelo menos pare. Crescimento zero do PIB, prática e metaforicamente, é assim: temos que parar de ir para trás nessa recessão a maior da nossa história, nessa legião de desempregados, nesse desânimo da descrença política e de insegurança. E olhe que não há crise financeira internacional, não estamos vivendo uma guerra tradicional, de luta entre inimigos externos, a qual tem que ser declarada até o armistício, o tratado de paz, a nova fase.
Não tem sido muito diferente de um período de guerra. Antes, éramos o país da miscigenação, do brasileiro cordial, da festa a toda hora, das noites e madrugadas nas ruas, na boemia, dos dias e tardes dedicados ao trabalho porque depois viria a praia, o churrasco, a afluência, a festa. Mudou. Quando plantaram lá atrás as sementes do maniqueísmo, da escola de ódio em cada escola, sabíamos que era uma guerra interna do “eles contra nós”, aproveitando-se os semeadores da democracia e da liberdade recém conquistadas. E ela de semente passaria a ser um imenso matagal, um país dividido pela ideologia e pela sede de poder total, que vai realizando suas batalhas, semeando suas lembranças tristes de guerra, e que por causa dessas marcas e lembranças é muito difícil de reconstruir um período de paz do qual todos participem. Muitos preferem assim, país dividido. Pena. Há interesses nisso.
Não me lembro de um período semelhante, em que a seiva de nossa identidade fraquejasse e as pessoas se sentissem sem norte, saudosas algumas do “pai da pátria”, outras da ordem rígida, outras ainda de um passado que nunca tivemos de experiência socialista, que não deu certo em lugar nenhum. Por quê desejar implantá-la em solo forçadamente “bolivariano” tanto tempo depois, se as lembranças de sua implantação forçada são tão tristes assim como relatam os que a vivenciaram, reproduzindo outros esses relatos em filmes, livros, versos e prosas?
Por não ter vivido antes um período tão opaco em terras tropicais tão luminosas, dádiva da natureza, creio que afinal esta é uma experiência que nos está fazendo mais adultos como país, menos ingênuos ou ilusionados, como se requer de um povo que enfrenta a realidade sem querer (ou poder) negá-la. Luta, perde, ganha, mas vence, porque vai caminhando na direção de um futuro melhor, porque mais real. E como outros povos que vivenciaram outras guerras, celebremos que a última folhinha do calendário vai chegando ao 31. Tempo de virada. Feliz Ano Novo!
*Yeda Crusius é presidente de honra do PSDB Mulher Nacional, professora universitária, economista, comunicadora, consultora. Como política ocupou os cargos de Ministra do Planejamento e, como eleita, foi Deputada Federal por três mandatos, e Governadora do RS.