Em 1986, quando Lula ainda estava longe da presidência da República, o Nordeste surpreendeu o país elegendo uma petista, Maria Luíza Fontenelle, como prefeita de Fortaleza. A primeira mulher a conquistar o poder executivo em uma capital.
O restante da história todo mundo sabe. Com o tempo e a vinculação cada vez maior de Lula e do PT com os nordestinos, além da criação do bolsa-família, o Nordeste passou a ser a terra de Lula e, posteriormente, de Dilma. Ambos tiveram votações expressivas na região que fazia, politicamente, o que eles determinavam.
Pedir votos para o PSDB no Nordeste era quase uma sentença de morte. Os tucanos eram vistos como pessoas contrárias ao bolsa-família, coisa que o PT apregoava nos quatro cantos da região, criando uma guerra entre sulistas e nordestinos que dividiu cada vez mais o país e chegou à Internet com posicionamentos xenofóbicos flagrantes.
Nesta eleição, porém, o troco veio de forma cavalar. O PT que tem ainda três governadores nordestinos – Camilo Santana, no Ceará; Rui Costa, na Bahia; e Wellington Dias, no Piauí – foi praticamente varrido do mapa político da região com o resultado conhecido ontem.
Ser do PT virou, também no Nordeste, um Deus nos acuda. O único candidato petista em capitais, João Paulo, no Recife, duas vezes prefeito, escondeu a sigla na campanha e era combatido, pelo prefeito eleito Geraldo Júlio (PSB) como “candidato do PT”, o que passou a ser sinônimo de coisa deplorável.
Um aviso já tinha sido dado aos petistas pernambucanos em 2014 quando a legenda não elegeu nenhum deputado federal no estado.
Terra de Lula, Pernambuco não só derrotou o PT na prefeitura do Recife. A legenda só elegeu um vereador na capital e sete dos 184 prefeitos estaduais.
Em Olinda, município muito vinculado à esquerda, a candidata a prefeita do PT e presidente do partido no estado, deputada estadual Tereza Leitão, teve pouco mais de 5% dos votos. A maior cidade conquistada pelos petistas foi Serra Talhada, mas o prefeito eleito, Luciano Duque, pode deixar a legenda.
Com receio de perder, os governadores petistas preferiram apostar em outras legendas. Em Fortaleza elegeu-se o prefeito Roberto Cláudio, do PDT, apoiado pelo governador petista Camilo Simões, mas em Teresina e Salvador foram reeleitos os prefeitos do PSDB, Firmino Filho e ACM Neto. Os dois governadores petistas saíram derrotados nessas duas capitais.
O desgaste do PT fez com que Lula, antes requisitado e disputado para subir no palanque dos candidatos nordestinos, deixasse de ser convidado. Sua presença era temida. Em Recife, ele esteve no primeiro turno, mas, como não conseguiu mexer nas pesquisas, foi dispensado no segundo. Lula juntou pouco mais de 2 mil militantes no comício de João Paulo.
Bem diferente do que acontecia na região anteriormente. Em Pernambuco costumava-se dizer que a presença de Lula era capaz de mudar qualquer prognóstico positivo para a oposição. Bastava ele estar em Petrolina, a cidade mais distante da capital, para mexer com o eleitorado do Recife e as pesquisas darem uma reviravolta a favor dos lulistas.
Agora foi o contrário.
*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco e membro da Executiva do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB