Mesmo com a mudança de perspectivas do país, as dificuldades da economia brasileira permanecem. São sinais de que os estragos promovidos nos últimos anos foram mais profundos do que se poderia imaginar. Indicam, também, que a disposição para reformar o Estado terá que ser redobrada.
Os ventos positivos advindos da ascensão do governo Michel Temer levaram alguns a crer que a simples melhora de expectativas seria capaz de tirar o Brasil da trajetória recessiva e recolocá-lo de volta na rota do crescimento. Doce ilusão. O panorama melhorou, mas não o suficiente (ainda) para recuperar os bons ventos.
Nas últimas semanas, alguns indicadores vieram à tona sinalizando que apenas em meados do ano que vem, na melhor das hipóteses, a viagem ao fundo do poço deverá ser interrompida. Neste ínterim, o país terá de promover mudanças importantes na sua estrutura de gastos e de produção para impulsionar a decolagem quando ela vier.
A indústria, por exemplo, já voltou a patinar. Em agosto, houve queda de 3,8% frente ao mês anterior, interrompendo cinco meses consecutivos de altas nesta base de comparação, segundo o IBGE. Com isso, torna a ficar comprometido um dos motores que vem dando alento ao comércio internacional brasileiro.
O mercado de trabalho ainda está longe, muito longe, de voltar a gerar vagas. Por enquanto, a razia de empregos continua a pleno vapor, com 22,7 milhões de brasileiros penalizados pela falta de trabalho, conforme o novo conceito empregado pelo IBGE para aferir o comportamento das contratações.
A inflação até deu refresco, mas não foi capaz por ora de aliviar a carga sobre o bolso dos consumidores. O indicador referente às vendas de varejo assinalou em agosto a 17ª baixa seguida quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, também de acordo com o IBGE. Com o dinheiro mais curto, as compras não param de encolher.
Resta claro que houve uma dissonância entre a melhora das expectativas de parte dos agentes e a reação efetiva da economia. Fica evidente que a destruição das condições de produção e geração de emprego e renda no país pelos governos petistas foi mais severa do que se podia antever.
A situação não inspira desânimo, contudo. Cobra ímpeto. A correção de rumos vem sendo feita, mas pode ser acelerada, a partir da aprovação da PEC da responsabilidade pelo Congresso. O passo seguinte é reformar a Previdência, fonte de desequilíbrios cada vez mais perniciosos aos caixas tanto da União, quanto dos estados.
Mas tão urgente quanto aliviar o Estado é atrair o investimento privado de volta ao jogo, no momento em que o público desce a níveis históricos, como mostra o Valor Econômico em sua edição de hoje. A reconstrução da infraestrutura nacional tem o condão de ser excelente oportunidade para dinamizar a economia e, ao mesmo tempo, acabar com entraves que bloqueiam o melhor desenvolvimento do país. Mãos à obra, portanto.