Opinião

“A Pátria acordou”, por Terezinha Nunes

Terezinha NunesUm dos maiores intérpretes da alma brasileira, o dramaturgo Nelson Rodrigues batizou o nosso país de “A pátria de chuteiras”, sintetizando com isso todos os artigos e crônicas que escreveu sobre o nosso futebol e o amor do nosso povo pelo esporte que, ainda hoje, apaixona multidões.

Como dizia Nelson, não há um só canto do Brasil onde pessoas se reúnam que, de alguma forma, o futebol não esteja presente. Quer em torno das peladas de periferia ou dos jogos disputados nos grandes estádios nacionais.

Nos últimos dias, porém, até o Nelson, se aqui ainda estivesse, ia presenciar outra paixão do brasileiro : a política.

As discussões em torno do impeachment da presidente Dilma e as paixões despertadas de norte a sul do país fizeram com que o futebol se mantivesse em segundo plano. Quase só se falou e ainda se fala da crise em que estamos mergulhados e dos caminhos para sair dela. Quem anda na rua, usa transporte coletivo, vai às praças, igrejas, festas e que tais só tem este assunto na cabeça.

No último domingo, então, vivemos um clima de final de Copa do Mundo. Concentrações nas principais capitais e cidades, em torno de telões monumentais para serem enxergados à distância, foram vistos em todo o país. Quem não estava nas ruas, lotava bares e restaurantes que permaneceram com TVs ligadas das 14 às mais de 23 horas ou se reuniram com a família em casas ou apartamentos, num verdadeiro clima de Fla x Flu.

Cada voto dos mais de 500 deputados presentes à votação era festejado ou xingado, de acordo com platéia presente. Dado o último voto, a multidão explodiu em êxtase ( os pró-impeachment) e em choro e desolação (os contrários ao afastamento da presidente). Ninguém ficou inerte, desde o varredor de rua, vendedor de pipoca e guloseimas, até o mais alto executivo.

Nas ruas fogos foram espocados para comemorar o final do veredicto da Câmara dos Deputados. Panelas bateram e luzes apagavam e acendiam, demonstrando a largueza da rejeição à presidente detentora de sucedidos recordes de reprovação.

Estarão os brasileiros dispostos a manter essa vigilância sobre as Instituições e os políticos em geral ? É difícil prever mas uma coisa parece clara: estão todos convencidos de que não fossem as mobilizações por mudanças de 2013 para cá e as sucessivas manifestações de 2015 e 2016, era impossível fazer com que uma Câmara, abertamente favorável à presidente, chegasse a lhe imputar uma derrota acachapante, votando em mais de 2/3 pela sua saída.

O povo que passou anos alheio ao debate político, crendo que as benesses econômicas eram suficientes para mantê-lo em pé e acreditando em todas as mentiras que eram ditas nos discursos e em bem produzidos programas de TV, manifestou finalmente o seu não e exigiu um basta às mentiras, à incompetência e à corrupção.

E fez isso ordeiramente quando todos imaginavam em batalhas campais nas ruas do país, como previra o PT. Não se disparou um tiro, não se viu uma bofetada. Cada grupo em seu canto comemorou ou resignou-se com a decisão do Congresso.

Só as próximas eleições vão medir o alcance da mudança que se operou na cabeça desses brasileiros mas ninguém mais duvida de que jamais será como antes. A pátria despertou.

*Terezinha Nunes é presidente do PSDB Mulher de Pernambuco