Como todos os brasileiros, acompanho há dez meses a desfaçatez com que o recém-eleito governo Dilma Rousseff nos impõe sua decomposição em praça pública. As mentiras reveladas, a omissão cúmplice perante os escândalos, cada vez mais graves; a exposição impiedosa dos efeitos de suas “pedaladas fiscais”; da política equivocada, apelidada pomposamente de “nova matriz econômica” ainda no segundo governo Lula, por aquela que nos foi vendida como a Mãe da Pátria e a Gerente da Nação.
Deveríamos ter percebido a luz vermelha acesa. Jamais foi Dilma Rousseff, a candidata, sempre o aposto que a definia, o poste, a laranja.
Hoje vemos claramente o que sempre se cochichou pelas esquinas inexistentes de Brasília: Lula manda e desmanda, coordena a reforma ministerial com que pretende salvar Dilma Rousseff do impeachment, cada vez mais próximo, e a própria pele das garras das investigações da Lava Jato, em que seu nome aparece em várias gravações.
Em mais um ato de prestidigitação, tão comum nos últimos 13 anos, Lula e Dilma fingem ignorar que a crise econômica e política que assola o país exige respeito à população esgotada; corte efetivo de gastos públicos; redução do tamanho de um Estado paquidérmico e combate sem tréguas à corrupção institucionalizada que tomou conta do Brasil.
Hoje é um dia de luto para o PSDB Mulher. O dia em que testemunhamos o retrocesso de boa parte da luta de toda uma geração de mulheres empenhadas em se fazer ouvir. Em criar um espaço institucional de políticas públicas para a mulher que culminou com a criação, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, da Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher (SEDIM), com status de ministério.
Fui a primeira Ministra da Mulher no Brasil e nem sei como expressar minha amargura ao ver uma irmã de gênero, para se manter no poder, em busca de conchavos espúrios, causar tamanho retrocesso ao trabalho realizado por suas iguais, em uma cadeia de suor e entusiasmo.
Assim como os economistas afirmam que os desmandos e paralisia dos governos do PT podem levar o Brasil a uma nova “década perdida”, Dilma Rousseff, ao fundir a SPM com as Secretarias de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, se arrisca a entrar na História como a primeira presidente do Brasil e a responsável pelo retrocesso na conquista de direitos importantes na luta da mulher.
Não é fundindo a Secretaria de Políticas para as Mulheres com outras duas que Dilma Rousseff irá se manter no Palácio do Planalto. Para fazer frente a esse enorme desafio, ela precisaria entender de economia e ética, saber que é preciso se hospedar nas embaixadas que o Brasil mantém no exterior e acabar com a farra das diárias nos hotéis de luxo; precisaria saber que chegou a hora de diminuir os cargos comissionados da Esplanada; de dar o exemplo e cortar na própria carne.
Em tempos de fome, desemprego e insegurança, em que os jornais mostram brasileiros morrendo nas filas de atendimento de emergência dos hospitais, avisam que 1 milhão de postos de trabalho foram fechados em um ano e a inflação não para de aumentar, exibir opulência e ostentação deixa de ser sinal de deslumbramento e “novo-riquismo” e passa a ser burrice, simples assim. Nem Maria Antonieta faria melhor.
Para se manter no Planalto, Dilma Rousseff precisaria mostrar que é uma mulher de fibra, princípios, consciente de sua condição de gênero, tal como apregoou em 2009. Uma mulher sem aposto ou tutor.
A fusão da Secretaria de Políticas para as Mulheres, infelizmente, mostra no poder o tipo de mulher que sempre nos envergonhou: a submissa, a tutelada, a incapaz de decidir por si mesma os rumos de seu destino e de sua biografia.
*Solange Jurema é presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB