Socióloga, especialista em pesquisas, Fátima Jordão faz parte da história de construção das políticas de gênero no Brasil. Sua atuação, sobretudo em pesquisa e na área da comunicação política é reconhecida, neste biênio, com a Medalha Ruth Cardoso, condecoração concedida pelo PSDB Mulher a mulheres e instituições que colaboraram em ações e programas de promoção social, econômica, política e cultural em favor dos direitos femininos, assim como para o enfrentamento da discriminação de gênero. A premiação acontecerá no dia 4 de julho, no auditório do Hotel San Marco, em Brasília, às 19h.
Fátima será homenageada num contexto em que o Brasil clama pelos avanços em direção à igualdade de gênero. Mais do que o momento, esta sua trajetória pavimentou com o trabalho ao lado de mulheres como a própria Ruth Cardoso, no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, nos anos 90, até os dias de hoje um caminho de muitas batalhas e vitórias. Sua voz e conhecimento em favor da igualdade estão em conselhos ligados à cultura, comunicação, publicidade, política e gênero. Fátima Jordão é uma especialista que o PSDB Mulher sempre convida a ministrar palestras e cursos que oferece para as militantes de todo o Brasil porque o assunto gênero é que subsidia as diretrizes de atuação do Secretariado da Mulher do PSDB. Gênero, lutas e conquistas são o tema desta entrevista.
PSDB Mulher – Este é um momento importante para o Brasil, de avaliação e de oportunidades de avanços sobre políticas de gênero. Tivemos a conferência da ONU Beijing+20, temos hoje o lançamento da campanha ElesPorElas no Brasil e estamos com a pauta no Congresso para aumentar a presença da mulher na política. Qual é a estratégia e ação para aproveitar estas oportunidades?
Fátima Jordão – A melhor oportunidade nesta quadra política – no entanto muito difícil de se obter – é a questão de cotas de assentos para mulheres no Parlamento. Acho que o país não é sustentável nem politicamente, nem economicamente, nem do ponto de vista das leis, com a atual legislação. A crise que o país vive nesse momento tem um forte componente de déficit de representação, sobretudo de mulheres. Elas são de apenas 10% das cadeiras do Congresso. O Brasil é um país muito atrasado nesta questão em confronto com outros países, mesmo os da América Latina. No entanto, na primeira votação na Câmara dos Deputados a diferença de votos para aprovação de cotas para mulheres foi pequena. Faltaram 13 votos, os votos dos tucanos fizeram falta, mais de 50% da bancada presente no dia da votação foram contra este avanço social.
PSDB Mulher – Em que você acha que o Brasil mais avançou sobre este assunto, desde a democratização?
Fátima Jordão – Do ponto de vista de gênero, o sistema de saúde da mulher pelo no SUS foi um grande passo. Outro avanço nesse campo foi a aprovação das normas técnicas do aborto legal, hoje com quatro permissivos, conquista feita no governo de FHC. O desvelamento da tragédia da violência contra a mulher foi uma conquista da década de 80 (governo Montoro) com a criação do Conselho da Condição Feminina de São Paulo. A legislação atual e as leis Maria da Penha, a caracterização do feminicídio, por exemplo, foram conquistas dos governos petistas. Temos que levar em conta que os movimentos das mulheres e as sucessivas bancadas femininas no congresso tem atuado com muito vigor e permitido influenciar os executivos das três esferas de governo na implementação de várias políticas de gênero, algumas pioneiras com a criação, há décadas das delegacias das mulheres e agora das casas das mulheres brasileiras.
PSDB Mulher – A violência, segundo a ONU Mulheres, ainda é o maior entrave para o alcance da igualdade. Você concorda?
Fátima Jordão – É um dos grandes entraves, sem dúvida, pois funciona como repressão à autonomia das mulheres e um desrespeito à sua condição. No trabalho, nas ruas e, sobretudo dentro das casas, a sociedade brasileira e os governos tem sido complacentes com esta “guerra” que mata um brasileira a cada duas horas. É uma questão cultural, dada a hegemonia do machismo, barreira para vários avanços da cidadania de homens e mulheres.
PSDB Mulher – Por que acha que a pauta de gênero e igualdade ainda não está na agenda da mídia?
Fátima Jordão – A Mídia tem pautado com muita frequência as questões de gênero, mas nem sempre de um ângulo mais amplo e reformador. Por exemplo, estupros e homicídios de mulheres são tratados jornalisticamente sempre com o enfoque estreito de matéria policial. Sobre o viés machista de políticas de comunicação, nenhum governo, até o momento, fez campanhas de grande impacto para mostrar os males dessa tragédia. Mas como dizia Nelson Rodrigues: subdesenvolvimento não se improvisa, dura séculos para se superar. Como o machismo, igualzinho
*Da Assessoria de Imprensa do PSDB-Mulher SP