A descrença do brasileiro nas instituições, nos poderes e na qualidade dos serviços públicos alcança níveis sem precedentes. Criou-se um verdadeiro fosso entre as expectativas do cidadão e as práticas políticas, jurídicas e de gestão. Daí vem a pergunta: será possível revigorar a tão massacrada fé na eficiência e ética públicas?
No contexto dessa dura missão, a Prefeitura de Goiânia acaba de propor uma ampla reforma no funcionamento das unidades administrativas e na gestão da força de trabalho que alimenta a máquina pública. Mas tornar a estrutura moderna e a gestão proba será extremamente desafiador.
A exemplo de outros municípios, Goiânia enfrenta problemas gravíssimos e, em alguns casos, de dimensões inéditas. Tanto nas escolhas do poder público, quanto na limpeza urbana, iluminação pública, trânsito, tratamento de doentes, educação infantil, meio ambiente e proteção social.
Como solução, a Prefeitura aposta na economia de gastos e melhoria dos serviços. Para tanto, transfere ampla autonomia financeira e de gestão a auxiliares de primeiro escalão e passa a exigir deles rapidez na busca por soluções, com prazos e indicadores de desempenho.
O projeto também reduz a estrutura administrativa, além de cargos e gratificações, e estranhamente elimina direitos e conquistas de servidores concursados. Estranhamente porque serão esses mesmos servidores, já desestimulados, que irão operacionalizar as linhas da reforma.
Tenho plena consciência de que o maior obstáculo está na postura dos agentes públicos tanto do Executivo quanto do Legislativo. Se não abrirem mão das indicações políticas, dos privilégios, dos arranjos em troca de cargos públicos, do superfaturamento de contratos, jamais a eficiência administrativa terá espaço.
Será necessário tanto a vereadores quanto ao prefeito e seus aliados trocarem benefícios particulares e de seus grupos por soluções destinadas a toda a população. Não há coexistência. Só assim teremos legitimidade e autoridade moral para mudarmos a face política de nossa cidade e fazermos jus aos motivos pelos quais fomos eleitos.
Desde a semana passada , a Câmara de Goiânia conduz os debates sobre a reforma, em um amplo acordo social e político em torno da mudança. Estou otimista. Lutarei incansavelmente para ouvir todos os segmentos da população e fazer os ajustes necessários. Mas meu compromisso maior é dar exemplo. Abro mão de interesses próprios. Quem mais se candidata?
Cristina Lopes Afonso é vereadora (PSDB) e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara de Vereadores de Goiânia
Fonte: Site do O Popular