Ex-exilada política Moema Morais Correia São Thiago, de 66 anos,é uma referência no cenário político nacional. Inquieta e ativa, a tucana se envolveu diretamente na despedida do senador Pedro Simon (PMDB-RS.) Em entrevista ao Povo, do Ceará, Moema São Thiago afirmou que o Congresso Nacional fica órfão de uma de suas expressões mais conhecidas da Política com “P” maiúsculo.
Combatente da ditadura 1964-85 no movimento estudantil, exilada, ex-brizolista, a mineira do município de Formiga mostrou-se grande desde cedo. Fora do Brasil, protestou contra a Guerra do Vietnã.
Primeira mulher a representar o Ceará no Congresso Nacional, foi constituinte de 1987-88. No Ceará, a advogada trabalhista, hoje atuando no PSDB nacional, conheceu o poder de perto, pelos próprios méritos e sobrinha que foi de dois governadores: Virgílio Távora e Flávio Marcílio.
Confira a íntegra da entrevista com a primeira deputada federal pelo Ceará, Moema São Thiago (PSDB).
A seguir, alguns trechos da entrevista de Moema São Thiago.
O Povo – Ao longo das últimas décadas, o mundo melhorou ou piorou, politicamente?
Moema São Thiago – Nós vivemos no mundo um momento muito difícil, em que a questão dos valores está muito presente. Vivemos num mundo de intolerância, de radicalismo e de não aceitação das pessoas. Vivemos no mundo do consumismo. Justamente os valores que o papa Francisco tem negado. Vivemos num tipo de sociedade em que as pessoas, simplesmente, estão agindo para o seu bel prazer, sem nenhum compromisso. Quando você entra nessa lógica, nessa cruzada de valores, é levado aos extremos.
O Povo – Seja mais específica.
Moema – Veja o caso do Brasil. Como é que se apresenta um partido, como esse do (Gilberto) Kassab (presidente nacional do PSD, ex-prefeito de São Paulo e atual ministro das Cidades), dizendo-se que não vem para nada. Não é de direita nem é de esquerda. Qual é a proposta? A proposta é, simplesmente, um balcão de negociação. Os valores mais oportunistas que existem que levaram ao escândalo do mensalão e do petrolão.
O Povo – Não cair na dicotomia esquerda/direita não seria facilitar a boa convivência política?
Moema – Eu não sou a favor da radicalização. É importante haver margem para negociação política. Mas desde que essa negociação se dê em cima de compromissos. Essa não-radicalização do Kassab não existe. Ele não tem compromisso com nada. Ele simplesmente está atrás de cargos. O Congresso, por setecentos mil reais (emendas parlamentares a que os congressistas têm direito) aprovou a maquiagem fiscal da presidente Dilma. Jamais poderia ter sido aprovada. É essa a questão.
O Povo – A chamada criatividade contábil do governo federal é um caso isolado?
Moema – Não é. A presidente Dilma, na campanha, disse um bocado de mentiras. Estão aí as provas. Aumentos e cortes. Ela chama “Pátria Educadora” ao mesmo tempo em que dá um corte de sete bilhões na educação. É uma total incoerência. É o poder pelo poder.
O Povo – É a mesma linha de crítica da ex-senadora Marina Silva?
Moema – Exatamente. Lembro agora de uma frase do papa Francisco, por quem estou apaixonada. Ele condenou o “Alzheimer espiritual”. O que é isso? É exatamente a negação dos valores espirituais. O oportunismo, que é a expressão máxima do partido do Kassab e dessa jogada que ele está querendo fazer para garantir a maioria ao governo. A maioria em cima de quê? De cargos de nomeações. Tanto é que eles tentam, descaradamente, envolver no esquema do (Alberto) Youssef (delator da operação Lava Jato, preso pela Polícia Federal) o candidato do PMDB no Congresso (deputado Eduardo Cunha, postulante a presidente da Câmara dos Deputados) e o ex-governador e senador eleito por Minas Gerais (Antonio Anastasia, PSDB). Só que tudo já foi desmentido, pelo próprio doleiro. O que eles querem com isso? Fazer uma geleia geral. Dizer que tudo é igual. Não é verdade. Nós não somos iguais aos que não têm caráter. A presidente fala dos mal feitos, mas ela nomeou para o ministério cinco pessoas condenadas. Esse último, Edinho (Araújo, PMDB, Portos), foi nomeado em cima de duas condenações. Inclusive, na segunda instância. Há outros três com processo no Supremo (Tribunal Federal). Nunca se teve na história do Brasil um governo tão medíocre, de baixo nível e de malfeitores.
Leia aqui a íntegra da entrevista.
*Publicado na edição desta segunda-feira (19) do jornal O Povo