Dilma Rousseff disse outro dia que não está preocupada com o mau desempenho da economia porque “indicadores antecedentes” sugerem que os próximos meses serão venturosos. Seria melhor a presidente olhar para o que está acontecendo agora mesmo no mercado de trabalho brasileiro.
Em julho, mais uma vez, a geração de empregos no país registrou recorde negativo para o mês neste século – para ser mais preciso, o menor nível desde 1999. Foram criadas apenas 11,8 mil novas vagas no período, segundo o Caged.
A queda em relação a julho de 2013 supera 71%. Nas regiões Sul e Sudeste, o saldo foi negativo. Em 10 das 27 unidades da federação, também – o pior resultado foi registrado no estado do Rio, com 7 mil empregos eliminados. Só na Grande São Paulo, 128 mil pessoas perderam o emprego neste ano, de acordo com o IBGE.
No acumulado de janeiro a julho, foram criados 632 mil empregos no país. Na comparação com os sete primeiros meses de 2013, a queda é de 30%, quando foram abertos 275 mil postos de trabalho a mais. Trata-se do pior resultado para este período do ano desde 2009.
Junho já tinha sido ruim e julho foi pior ainda: de um mês para o outro, a geração de empregos foi 53% menor. Não se deve esquecer que estes foram os meses da Copa do Mundo, o que reforça a constatação de que o país parou – ou melhor, foi parado, por conveniência do governo – para a bola rolar.
A indústria da transformação continua um arraso, tendo demitido 15,4 mil no mês. Desde abril, já são 74 mil empregos dizimados no setor, segundo o Valor Econômico. Os serviços até se mantiveram no terreno positivo, mas num ritmo equivalente a apenas cerca de ¼ do que vinham gerando tradicionalmente no mês, apontou O Globo. No ano, até agora, o comércio já ceifou 50 mil postos de trabalho.
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, diz enxergar o “fundo do poço”, ou seja, o pior ficou para trás. Será? A situação não parece animadora. Em julho, a população ocupada caiu em comparação com o mesmo mês de 2013, segundo a consultoria Rosenberg Associados. É a primeira vez que isso acontece desde 2003.
Faz tempo, Guido Mantega, colega de Dias no outro lado da Esplanada, também usou a mesma expressão para afiançar que a economia brasileira tinha passado pelo seu pior momento. Foi em dezembro de 2011. Depois voltou a recorrer ao “fundo do poço” para dizer, novamente, que as dificuldades haviam sido enfim superadas. Foi em agosto de 2013.
O padrão das análises se repete agora com a abordagem abraçada pela presidente da República. Quem sabe, com sua visão peculiar, Dilma Rousseff e seus assessores considerem que depois do fundo do poço tem sempre um fundo ainda mais profundo.
*Rede45