Violência sexual infanto-juvenil, todos sabemos o que significa. Sabemos, também, que somente 10% dos crimes são relatados e ainda, que a maioria dos casos ocorre dentro de casa; que a faixa de idade dos mais vulneráveis está entre 5 e 12 anos; que a maior parte dos autores são pessoas próximas ou conhecidas das vítimas e que destas, grande parte é de crianças do sexo feminino.
O que estamos fazendo para mudar essa situação? Como Delegada de Polícia, durante mais de 20 anos atendi crianças que tinham o medo no olhar. Uma delas se escondeu debaixo da minha mesa e somente ali conseguia conversar comigo e contar o que lhe causava tanto terror. Outras sequer sabiam falar, tão pequeninas ainda. Algumas vítimas eram simplesmente desacreditadas, pois que na adolescência, com a vida sexual já bem ativa, demonstravam grande agressividade e rebeldia. Em quem confiar? Se a pessoa que deve proteger e amparar é a mesma que agride ou se omite. Ah sim!!! A partir de agora, no Brasil, esse crime foi incluído no rol dos crimes hediondos, com penas mais severas.
E vem a pergunta que todos nos fazemos: como é que essa lei, assim como tantas outras, vão efetivamente proteger nossas crianças, quando muitos dos operadores do direito, na Polícia, na Justiça e no Ministério Público e até mesmo boa parte da nossa sociedade ainda denomina como prostitutas e não como vítimas, jovens adolescentes que fazem “ponto” nas esquinas das cidades, casas noturnas, chácaras de diversão e etc…
Como proteger pessoinhas indefesas diante do imenso “segredo familiar” imposto a elas, desde muito cedo. Como resguardar pequenos seres, se eles mesmos sequer entendem o que lhes acontece nas noites escuras e sombrias ou nos momentos em que ficam sozinhas com seu algoz?
A sociedade brasileira tem a imensa responsabilidade do olhar diferenciado, os profissionais das áreas da saúde, da educação e da segurança precisam dar-se as mãos no combate a esse crime que sempre foi hediondo.
Ao Poder Público cabe destinar os recursos necessários e promover políticas públicas para preparar os profissionais, os pais e principalmente as crianças e jovens, pois se tiverem plena consciência do poder que têm sobre seus próprios corpos estarão muito mais protegidos. Agora é urgente, durante a Copa do Mundo receberemos muitos estrangeiros, que não conhecem nossas leis mas, certamente, conhecem o certo/errado. Aos criminosos um recado importante: a sociedade brasileira está atenta!
* Telma Tulim é delegada de polícia aposentada, advogada e vereadora/PSDB Tupã-SP
** Publicado originalmente no site do PSDB Mulher-SP