Já disse, em outra oportunidade, que a nossa posição no Congresso Nacional é privilegiada, por nos permitir olhar o Brasil em perspectiva. Aqui é como se fosse um observatório, centrado na cidade que o seu criador, Juscelino Kubitschek, a ela se referiu como um centro “de onde emanam as decisões sobre os destinos do Brasil”. A nossa responsabilidade, como componentes desse processo decisório, é muito grande.
Foi pensando nisso que, há alguns dias, subi à tribuna do Senado Federal para falar sobre a situação de nossa maior empresa, a Petrobras. Agora comento os dados da atual conjuntura política e econômica, tendo como pano de fundo a pesquisa Ibope/CNI sobre a queda na avaliação do governo.
Este ano é um divisor deste momento contemporâneo: na perspectiva do futuro do nosso país, vamos decidir, nas eleições de outubro, quem vai ocupar a posição de liderança política e gerencial do país pelos próximos anos.
Do ponto de vista de uma projeção mundial, vamos sediar a Copa do Mundo de Futebol da Fifa, evento esportivo de repercussão mundial, para o bem ou para o mal. Por qualquer ângulo que olhemos, o Brasil está na vitrine, e os olhos do mundo estão e estarão voltados para nós.
Quanto ao nosso momento político, o jornalista Merval Pereira, em artigo recente, foi muito certeiro ao sintetizar o que todos nós já sabemos: “as condições subjetivas estão nas ruas desde junho do ano passado, surpreendendo quem se considerava dono das manifestações populares”.
Não podemos deixar de observar que há um clima de incerteza tomando conta da percepção popular sobre o momento que estamos vivendo. Destacam-se as questões sobre a situação econômica do país, sem nenhuma clareza da perspectiva de médio e longo prazos, além da segurança pública que, ao lado da educação e da saúde, apavoram a todos nós. O fato é que há um ambiente de indefinições preocupando a população brasileira.
No momento em que vamos escolher o próximo presidente da república e os governadores das unidades da federação, além de a população ter a chance de renovar o Congresso Nacional, lembro a análise do cientista político Luiz Felipe D’Ávila que, em entrevista nas páginas amarelas da revista Veja, há algumas semanas, disse que precisamos, com urgência, de estadistas, que, segundo ele, são capazes de entender “quais são as travas ao desenvolvimento e ao fortalecimento das instituições democráticas”.
Instituições democráticas sólidas, diz o cientista político, são a base sobre as quais se assentam três pilares fundamentais para a construção da prosperidade: a confiança no país, tanto para nós quanto para aqueles que nos olham de fora; a previsibilidade econômica e política; e a continuidade das boas ações públicas.
Passamos os últimos dias sob o impacto dos resultados da última pesquisa Ibope/CNI, que apontou uma acentuada queda de avaliação positiva do atual governo. Mas, chamou-me a atenção o título de uma das análises de conjuntura: “Para analistas, 2014 já acabou”. Segue-se a explicação – “domar a inflação, corrigir os erros da política fiscal e retomar o crescimento são os grandes desafios para 2015”.
Os números que dão base ao resultado da pesquisa que indica queda de avaliação do governo são significativos, e refletem aquilo que todos sabemos: a desaprovação quanto à educação atinge 65% dos pesquisados; na saúde, chega a 77%; na segurança pública, a 76%; no meio ambiente, a 54%; no combate à fome e à pobreza, que seria o ponto forte do governo, por causa do Bolsa Família, a desaprovação chega a 49%; na área econômica, quanto ao desemprego, a desaprovação chega a 57%; quanto aos impostos, chega a 77%; e no combate à inflação, chega a 77% de desaprovação.
Ainda, os analistas do mercado projetam que o Brasil terá, nos próximos meses, inflação em alta, podendo estourar o teto da meta, de 6,5%; crescimento pífio da economia; ajuste fiscal inconsistente; crédito caro, com os juros em alta, e consumo das famílias em queda.
Diante desse quadro, e com a as eleições já no horizonte da população brasileira, é evidente que não bastam bons discursos para conseguirmos superar essa situação. Quando saímos da esfera dos discursos e voltamos à realidade, lembramos que o ano de 2013 foi catastrófico para a nossa macroeconomia.
Senão vejamos: contrariando todas as metas estabelecidas pelo governo, o PIB cresceu menos de 2,5%; o saldo da balança comercial teve o pior resultado desde 2000, caindo quase 90% em relação a 2012; nas maquiagens contábeis, o discurso oficial colocou como exportação a venda de equipamentos que nunca saíram do Brasil; pela primeira vez caíram as vendas de carros; nós pagamos 1,7 trilhão de reais em impostos, mas a nossa infraestrutura está em frangalhos, mesmo com a proximidade da Copa do Mundo; os brasileiros que foram ao exterior, gastaram cerca de 25 bilhões de dólares e voltou a ficar mais barato comprar, por exemplo, um enxoval lá fora do que nas nossas cidades; o valor de mercado da maior empresa do Brasil, a Petrobras, caiu em um ano – de 2012 a 2013 – em torno de 40 bilhões de reais. Ao contrário do que foi anunciado em 2006, a nossa autonomia em petróleo não se concretizou. Em 2013 gastamos 40 bilhões de dólares em importação no setor.
Ainda no ano passado, chamei a atenção também para os investimentos em educação. Temos um gasto no setor, de 6% do PIB, mas o dinheiro não chega à sala de aula e nós continuamos a ocupar os piores lugares na estatística mundial. A evasão escolar chega a 16% entre os jovens de 15 a 17, anos e não conseguimos preparar a mão de obra de que as empresas precisam em termos qualitativos.
Para finalizar, a insegurança toma conta do país, bastando olhar o que se passa em nossas maiores cidades, não excluindo a violência que já está assombrando também os moradores de cidades do interior.
Ao repercutir esses dados, não tenho a pretensão de fazer alarmismos. Mas é a partir da realidade que chamo a atenção para o tamanho dos desafios que, como representantes do povo brasileiro, temos pela frente no biênio 2014-2015.
As reformas, sobre as quais tanto se falam, não podem ser mais adiadas, sob pena de, usando uma expressão, mais uma vez, do cientista político Luiz Felipe D’Avila, “caminharmos para uma mediocridade terrível”.
Certamente não é sem motivo que a mídia está dando destaque ao fato de que quando a avaliação do governo cai, a bolsa sobe.
Temos que, como agentes públicos, fugirmos dos discursos justificativos da grave situação que estamos vivendo e das construções midiáticas contra os “alarmismos”, e pensarmos que fomos trazidos pela população ao Congresso Nacional para buscarmos soluções na concretização de políticas públicas que devolvam a confiança a este gigante chamado Brasil.
(Lúcia Vânia, senadora (PSDB), ouvidora do Senado e jornalista)
Publicado no Diário da Manhã