Opinião

“Motivação”, por Mara Gabrilli

Foto: George Gianni/PSDB

 

Mara-Gabrilli-p-PSDB-Mulher-Foto-George-Gianni-PSDB-.jpgNicholas James Vujicic é um daqueles palestrantes capazes de motivar até o maior pessimista do mundo. Realizado, carrega uma áurea de quem nunca sofreu com preocupações, porém nem sempre fora assim. Nascido sem pernas e braços, devido a uma rara síndrome chamada tetra-amelia, Nick não teve uma vida fácil. Sofreu bullying na escola e desde os oitos anos já flertava com o suicídio. Cresceu deprimido até que um dia conheceu a história de um homem com deficiência. Viu que não era o único a enfrentar obstáculos e encontrou nas dificuldades alheias o que move a humanidade: motivos para encarar a própria vida com mais esperança.

Hoje, o homem sem braços e pernas emana felicidade por onde passa. E ele faz questão de dividir sua história com outras pessoas. Sua trajetória, embora possa parecer trágica para “pessoas perfeitas” têm muito em comum com a de todo ser humano. Afinal, todos nós somos tocados ao saber que não estamos sozinhos em um problema que parecia nos engolir.  Ao ver outras pessoas agindo, também somos picados pela inconformidade. Eis aí a fórmula da motivação: ir contra todos os motivos que poderiam lhe subtrair a vontade de agir. Não seguir o óbvio, como se deprimir, diante de um obstáculo aparentemente instransponível.

Atitudes positivas perante situações conflituosas geram ações em cadeia e contaminam outras pessoas em um ciclo de comoção. Isso acontece muito comigo que, às vezes, também palestro. Na verdade, nunca tive a pretensão de ser palestrante, tampouco de ser um exemplo para que as pessoas se motivassem. Acredito que nossas produções são extensões de nós mesmos. Ninguém precisa se espelhar na pessoa de ninguém, mas sim em ações que geram bem ao outro e podem ser replicadas. Minhas palestras costumam ser trabalhadas dessa forma. Algumas pessoas se emocionam ao conhecer minha história, mas o que espero que elas levem de mim é apenas minha vontade de transformar, de trabalhar, de produzir.

Esse efeito multiplicador entre quem fala e quem ouve é o que me motiva a dividir minha história para mais e mais gente. De todos estes encontros, nunca saio a mesma pessoa que entrei.  E essa sequela benéfica incorpora e enriquece o meu repertório de gente e de vida.

Sei que nem todo mundo é tocado da mesma maneira. Mas, de uma maneira geral, as pessoas com deficiência que palestram conseguem atingir a plateia por instigarem um poder de superação que às vezes anda adormecido. Com o meu amigo Pauê isso acontece sempre. Ele, que foi considerado o primeiro surfista bi-amputado do mundo, desperta em muitas pessoas a vontade de se mexer, tanto fisicamente, por ele ser um grande atleta com deficiência, quanto internamente – por sua garra, seu talento e coragem. Mas, isso não significa que a natureza, os planetas ou uma música possam lhe motivar mais. Nick, Mara e Pauê são apenas exemplos que podem ou não servir de motivação para você.

A verdade é que ninguém é capaz de extrair vontade de viver, sem que você tenha pulso para encarar sua vida, independentemente de que rumo tenha dado a ela ou em que eixo ela tenha lhe deixado. Palestras, livros ou filmes são ferramentas que podem lhe guiar nesta viagem que é o viver. Às vezes até conseguem lhe dar um “chacoalhão”.  Mas, não ache que deva seguir a risca tudo isso.

A motivação não é industrializada, não vem enlatada pronta para consumo. Além disso, nem sempre é possível trocar ideia com um Nick Vujicic a cada esquina. Você pode se inspirar em exemplos bem mais próximos, a começar por você mesmo e sua vida. Tenho certeza de que não faltam motivos para você celebrar essa dádiva. Então, motive-se!

Mara Gabrilli é deputada pelo PSDB-SP