O Manifesto de criação do Partido da Social Democracia Brasileira, o nosso PSDB, afirmava que o partido surgia para ouvir “a voz rouca das ruas”, o clamor que, desde a campanha pelas “Diretas Já!”, contaminou o povo brasileiro por maior e mais participação política.
Vivíamos os idos da década de 80, da Assembleia Nacional Constituinte que fez a Constituição-Cidadã, que garante a nossa liberdade de expressão, de organização, de livre manifestação e os direitos individuais e sociais dos brasileiros, duramente conquistados depois de 21 anos de regime militar.
Poucos anos depois, milhões de brasileiros saíram às ruas pelo impeachment do então presidente da República, acusado de corrupção. O PSDB estava presente nas manifestações, carregando a bandeira da ética, do respeito à Constituição e à vontade do povo, manifestada ordeiramente em todo o país, sob o comando dos jovens “cara-pintadas.
Nesses 25 anos de existência não fugimos às nossas responsabilidades com o Brasil, seja no governo ou na oposição. Fizemos o Plano Real, acabamos com a inflação, estabilizamos a economia, criamos uma rede de proteção social sem clientelismo e a Lei de Responsabilidade Fiscal, para citar algumas delas.
Nos governos, enfrentamos crises econômicas, sociais e politicas com dignidade e competência porque nunca deixamos de ouvir “a voz rouca das ruas”, não ficamos surdos a seus clamores.
Exemplo maior e repleto de simbolismo foi a atitude do nosso inesquecível Mário Covas, nosso primeiro presidente do PSDB, durante uma manifestação de professores paulistas em greve.
Covas, em seu destemor cívico, não aceitou recomendações de que deveria sair pelas portas dos fundos de um prédio. E, com o vigor democrático de quem foi cassado, enfrentou os manifestantes usando apenas a sua voz para lembrar a todos que enfrentara a ditadura militar para que os professores pudessem estar ali, reivindicando salários.
Na oposição, não deixamos de cumprir nosso papel alertando o povo brasileiro dos desmandos cometidos nos últimos 10 anos de petismo. Alertamos que os serviços públicos estão deteriorados, que a corrupção grassa na administração pública federal, que a inflação está sem controle.
E falamos isso porque estávamos, como sempre, ouvindo o clamor das ruas, conhecíamos as dificuldades do cotidiano do brasileiro, obrigado a passar horas em ônibus precários, a enfrentar filas para serem atendidos em hospitais e a ver seu salário corroído pela inflação.
Vinte e cinco anos depois do surgimento do PSDB, os brasileiros ocupam de novo as ruas em um protesto generalizado, a partir de insatisfações diversas e com multiplicidade de propostas. As “vozes roucas” se fazem presente, as ruas voltam a ecoar pedidos de mudanças, e novas formas de mobilização aparecem – a maioria soube das manifestações pelas redes sociais.
Cabe a nós fazermos uma reflexão mais profunda sobre esse fenômeno que reúne crianças, jovens, idosos e que se tornou tema nas mesas das refeições familiares, atingindo a todas as classes sociais, sem distinção.
A política deixou de ser um assunto de poucos e só de adultos. As crianças estão querendo participar e entender e isso é muito importante, pois afinal elas são o nosso futuro e a certeza de que desse movimento surgirão líderes que responderão por esse futuro.
É um movimento pacífico, que busca melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro de maneira geral, que não aceita mais a corrupção desenfreada, a péssima qualidade dos serviços públicos.
Nós, do PSDB, temos que ter os ouvidos bem abertos para entender o que o povo quer, coerentes com nossa participação na história política recente do Brasil.