Mãe que é mãe deixa de comer para alimentar os filhos, abre mão de qualquer regalia, do orgulho e se preciso for, flexibiliza princípios para garantir o bem-estar dos seus. Sem entrar no mérito do que é legal, para aquela que vive a maternidade o legítimo é assegurar que a fome passará longe dos pequenos.
Em tempos tão difíceis, como os atuais, em que a inflação oficial do país acelerou de 0,89% em agosto para 1,14% em setembro e a taxa de desemprego feminino atingiu 17,9% no primeiro trimestre, o desespero bate na porta e muitas mulheres ignoram limites para tentar ter comida em casa.
Constrangimento, vergonha e incômodo são sentimentos que passaram a configurar o segundo plano na vida de várias mães, pois a necessidade fala mais alto.
No começo do mês, o ministro Joel Ilan Paciornik, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), concedeu um habeas corpus para libertar uma mãe acusada de furtar dois pacotes de macarrão instantâneo e um suco em pó de um supermercado em São Paulo. Produtos que juntos somam menos de R$ 21,69.
O ministro entendeu que o furto foi cometido para matar a fome e não havia razão para prosseguir com o processo. A mãe, de 41 anos, tem cinco filhos com idades de 2, 3, 6, 8 e 16 anos, e alegou não ter condições de alimentar a família. Desde 2019, essa jovem senhora enfrenta processo por perda da guarda dos filhos.
Imaginar que esta mulher foi parar em uma cela por tentar alimentar, modestamente, os filhos, é inadmissível! Onde está a solidariedade? Não há uma viva alma capaz de “emprestar” R$ 21,69 para esta mãe? O que passa na cabeça do dono do supermercado que denuncia uma situação como esta? Não sei o que pensar.
Em compensação, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, houve compreensão. Uma outra mãe, sem condições de pagar pelos alimentos dos filhos, deixou um bilhete no trailer “Sr. Honestidade” destinado a servir pessoas em situação de rua: “Olá, eu vim através desse bilhete informar que peguei algumas coisas para o café com meus filhos, mas não vou roubar. Quando eu tiver, prometo devolver. Obrigada. A.C.P”
Minha esperança é por mais ambientes compreensivos como o de Santa Catarina, deixando que comércios como o de São Paulo sejam cada vez mais exceções e menos regra geral.
*Tiana Azevedo é coordenadora do PSDB-Mulher na região Sudeste e presidente do PSDB-Mulher do Rio de Janeiro