Em meio ao Agosto Lilás, mês em que a Lei Maria da Penha completou 15 anos, o PSDB-Mulher do Distrito Federal (DF) promoveu, na noite desta quarta-feira (25/8), a live Tem que parar: mais mulheres na política pelo fim da violência contra as mulheres. Na ocasião, as tucanas debateram sobre a importância da representatividade feminina na política para a elaboração de políticas públicas que combatam os diversos tipos de violência cometidas contra as mulheres diariamente.
Ao abrir o encontro virtual, transmitido ao vivo pela página do PSDB-Mulher DF no Facebook, a presidente do PSDB-Mulher no DF e coordenadora do segmento na região Centro-Oeste, Andréia Moura Zemuner, ressaltou a importância da iniciativa.
“Essa campanha tem o objetivo de conscientizar tanto as mulheres quanto homens da importância de caminharem juntos pelo fim da violência, diante de tantos fatos estarrecedores que a gente tem acompanhado pelos veículos de comunicação. Às vezes, pessoas muito próximas da gente são vítimas de violência”, exemplificou.
“O PSDB-Mulher, enquanto movimento político, pensa em trabalhar com mais mulheres na política, mais mulheres nesses cargos e espaços de poder, nos mandatos eletivos, no combate à essa violência. Com uma maior participação da mulher, certamente vamos ter um outro olhar sobre a questão da violência, um olhar mais cuidadoso e protetor sobre as outras mulheres”, considerou.
“Com toda a miséria de lá, com toda a situação da mulher lá, elas conseguem ter 27% dos assentos no Parlamento, enquanto aqui no Brasil nós só temos 15% de mulheres no Parlamento. Vejam o quanto que precisamos trabalhar a nossa participação na política”, disse.
Como procuradora da mulher na Câmara dos Deputados, a tucana destacou o trabalho do Observatório Nacional da Mulher na Política, lançado neste ano, no enfrentamento à violência contra a mulher, especialmente no caso da violência política de gênero.
“Nosso objetivo prioritário é atuar para impedir que situações de violência política resultem no apagamento de histórias, de resistência, como no assassinato da deputada federal Ceci Cunha, daqui de Alagoas, em 1998, e o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco”, pontuou.
A parlamentar também fez um apelo às mulheres para que continuem fortalecendo a campanha do Agosto Lilás:
“Precisamos que as mulheres conheçam e saibam que elas têm uma proteção chamada Lei Maria da Penha”, afirmou. “Não podemos deixar continuar essa violência tão grande, que aumentou tanto agora na pandemia, contra as mulheres. E nós só podemos mudar essa realidade se nós mulheres formos para a rua, discutir, conscientizar, e junto com os parlamentares fazer as leis. Precisamos fazer com que a rede de proteção à mulher se fortaleça em todos os cantos do nosso país”, constatou.
“Estou apostando muito no envolvimento das mulheres na política agora em 2022. Aqui na Câmara Federal, dos oito parlamentares de Brasília, cinco são mulheres, então a gente avançou bem aqui na campanha das mulheres. Não tenho dúvidas de que a mulher é a grande esperança de mudança. O eleitor precisa e confia mais na renovação com a participação das mulheres”, avaliou.
“No caso do PSDB, precisamos continuar incentivando, apoiando, dando mais autonomia, mais espaço para as mulheres na Executiva local, no diretório. Temos várias mulheres com expectativa de participar do processo eleitoral. Temos que apostar também nos jovens, nas jovens mulheres”, acrescentou o tucano.
Experiências de vida
A live também contou com a participação de várias mulheres que compartilharam suas experiências de vida e de trabalho em prol da defesa dos direitos femininos.
Em meio a uma carreira de grande maioria masculina, a coronel Sheyla Sampaio se tornou a primeira mulher a comandar a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Ela falou sobre o PROVID (Prevenção Orientado à Violência Doméstica e Familiar), iniciativa da PMDF que virou referência em outros estados.
“A presença da PM evita que o mal maior aconteça, porque as famílias atendidas através do Provid recebem visitas semanais, onde monitoramos como está a situação, se o agressor está cumprindo tudo o que a Justiça determinou. O papel da PM é mostrar para essa vítima que ela não está só, que ela tem sim o apoio do Estado”, apontou.
Já a história de Ana Paula Marques foi de superação. Vítima de uma tentativa de feminicídio, ela ficou paraplégica após levar um tiro do ex-marido. Foi durante o tratamento de reabilitação que ela conheceu os esportes adaptados e se apaixonou pela vela. Hoje, Ana Paula é atleta paralímpica e campeã mundial na modalidade Vela Adaptada.
“Fui perceber que era vítima de violência muito tempo depois, e já era tarde. Aquele abuso psicológico: ‘você não serve para nada’, ‘precisa de mim para tudo’”, contou.
“Hoje estou na luta, no esporte, realizada com o que almejei. Batalhando, buscando patrocínio para o próximo campeonato mundial na Itália, em outubro. A mulher não pode desistir dela. Tem que continuar lutando, não se entregar. É difícil quando se está em uma situação dessa, mas a gente tem que tentar. Estou viva, criei meu filho bem, com saúde”, disse ela.
Tipos de violência
As tucanas também debateram sobre os diversos tipos de violência a que as mulheres podem ser submetidas ao longo da vida. A enfermeira obstetra Lídia Peres destacou que uma delas é a violência obstétrica.
“Infelizmente, eu vivo a violência obstétrica diariamente. São muitos os casos de mulheres que chegam ao centro obstétrico para serem humilhadas, maltratadas e para sofrerem todos os tipos de intervenções desnecessárias, que só prolongam o trabalho de parto e trazem mais dor e sofrimento. Isso acontece na rede pública e na rede privada, infelizmente. E a gente acha normal”, denunciou.
Na contramão da violência, ela atende partos humanizados em todo o DF:
“Se a gente puder mudar a realidade de uma mulher que seja, que é o que eu busco fazer no meu plantão, já é uma que não vai ser vítima de um trauma que é semelhante ao de uma violência sexual. A gente precisa mudar, e o cenário está contribuindo para isso”, ponderou.
Já a enfermeira e 3ª vice-presidente do PSDB-Mulher DF Claudia Aires, a Claudinha da Saúde, lembrou da dificuldade de muitas mulheres em conseguirem métodos de contracepção que deveriam ser um direito de todas, como o DIU (dispositivo intrauterino).
“Muitas mulheres começam a ser violentadas quando elas não têm acesso ao DIU. Elas passam por uma gravidez que não desejavam, já chegam no parto com uma situação emocional extremamente abalada”, justificou.
Por sua vez, a enfermeira Maura Lúcia dos Anjos falou da importância de se fazer uma defesa dos direitos da mulher também sob um ponto de vista racial. Ela usou a representação feminina na política como exemplo: na Câmara dos Deputados, dentre 77 mulheres eleitas, apenas 13 são negras e indígenas. No Senado Federal, sete mulheres foram eleitas, nenhuma delas negra.
“A assimetria é monstruosa. São questões estruturais relacionadas a machismo, racismo, heranças da escravidão”, avaliou.
“Os pilares da democracia representativa têm que ser diversidade, igualdade, direitos e cidadania. É isso que a gente está buscando. Uma mulher na política muda uma mulher. Várias mulheres na política, muda a política. A gente precisa de representação, de raça, cor, gênero, para que a coisa aconteça de forma muito ampla. Violência a gente trabalha com políticas públicas”, salientou.
Por fim, a coordenadora de Eventos do PSDB-Mulher DF, Luciene Cordeiro, lembrou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres da área rural e ressaltou a importância de cada uma fazer a sua parte para melhorar a realidade ao seu redor.
“Na área rural, as mulheres que têm pouco acesso à tecnologia, à escola, sofrem muito mais. É importante cada um de nós observar: o que estou fazendo na minha comunidade? O que estou fazendo para ajudar outras mulheres?”, completou.
Também participaram do debate a 1ª vice-presidente do PSDB-Mulher DF, Luiza Vercillo; a presidente da 14ª zonal do PSDB-Mulher DF, Elme Tanus; a presidente da 9ª zonal do PSDB-Mulher DF, Kellynha da Estrutural; e a contadora de histórias Nyedja Gennari.
Confira a galeria de fotos da live: