Em pleno século XXI, a menstruação permanece sendo, assim como outros temas da intimidade feminina, assunto tabu, apesar de quase 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo menstruarem. A pandemia e o respectivo empobrecimento da população, no entanto, fazem deste 28 de maio, Dia da Dignidade Menstrual, um momento especial de alerta para as situações vividas por mulheres em todo mundo.
A pobreza, que não permite o acesso aos produtos de higiene adequados, tem limitado a vida de meninas e mulheres cisgênero, mas também de homens trans. As limitações são percebidas pelas faltas escolares e nos locais de trabalho e são ocasionadas pela ausência de condições adequadas para os cuidados exigidos no período menstrual.
De acordo com a ONU Mulheres, 12,5% das meninas e mulheres ao redor do mundo vivem em situação de pobreza e o alto custo dos produtos de higiene as impedem de acessar meios adequados e seguros para gerenciar seus períodos de menstruação, dificultando ou mesmo impossibilitando o uso de absorventes íntimos internos e externos, coletores ou calcinhas absorventes. Muitas mulheres acabam substituindo esses produtos por folhas de jornal, sacolas plásticas, meias ou panos velhos, aumentando os riscos de infecção e colocando sua saúde em risco.
Atualmente, 1,25 bilhão de meninas e mulheres ao redor do mundo não têm acesso a banheiros seguros e privados e 526 milhões sequer têm banheiros disponíveis nos locais onde vivem. Cerca de 2,5% das meninas e mulheres em todo o planeta vivem em situação de pobreza e, diariamente, 800 milhões de mulheres e meninas ao redor do mundo menstruam, sem que 50 milhões delas contem com instalações adequadas para lidar com este período.
No Brasil, 1,6 milhão de pessoas não têm banheiro em casa, 15 milhões não recebem água tratada, 26.9 milhões moram em lugares sem rede de esgoto.
Além da situação individual, que remonta a preconceitos que já deveriam estar extintos, soma-se a questão de saúde pública.
Por todos esses motivos, é preciso falar do assunto. O Dia da Dignidade Menstrual tem o objetivo de promover esse debate, incentivando a conscientização, rompendo o silêncio para que seja possível mudar as normas e discursos negativos em torno da menstruação. Na Câmara Federal, já há projetos de lei que visam disponibilizar absorventes higiênicos nas escolas públicas e o assunto tem ganhado força nos parlamentos municiais e estaduais em alguns pontos do país. Na Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo de São Paulo o assunto está sendo pautado em rodas de conversas nos centros de integração da cidadania e é considerado na elaboração de políticas públicas integradas.
Como diz Foucault, nossa sociedade é de vigilância, e a realidade é, hoje, potencializada pelas novas mídias sociais. O olhar do outro é intimidador e nessas circunstâncias causador de vergonha. Além das necessidades básicas não atendidas, o silêncio, o “não falar” sobre um tema tão natural, fisiológico, faz com que não eduquemos adequadamente nossas meninas para gerenciar sua higiene menstrual.
Mas há motivos suficientes para falarmos sobre o assunto e, mais que isso, temos urgência de elaborar medidas para sanar o problema. Não é apenas uma questão íntima. Trata-se de direitos humanos e de dignidade e, nós, mulheres, queremos isso para todas.
Dr. Edna Martins
Coordenadora de Políticas para Mulher na Secretaria de Justiça e Cidadania.