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Nº de mulheres nomeadas secretárias cresce nas capitais, mas homens ainda respondem por mais de 70% dos cargos

Levantamento considera a lista de secretários nomeados pelos prefeitos das capitais. São 140 mulheres (28% do total). Campo Grande (MS) é a capital com menos mulheres: apenas 1 dos 12 nomes das pastas. Recife (PE) e Belém (PA) têm, percentualmente, o maior número de secretárias mulheres. Percentual de mulheres, ainda baixo nas cidades, é maior que o de 2017 (22%).

Um levantamento feito pelo G1 revela que os 26 prefeitos das capitais nomearam mulheres para 140 dos 507 cargos de chefia nas secretarias municipais (28% do total). Isso significa que as mulheres lideram menos de 3 a cada 10 pastas dos Executivos municipais. Os secretários, que tomaram posse nos últimos dias, foram nomeados pelos prefeitos, com quem devem trabalhar durante a gestão municipal.

Em Natal (RN) e São Luís (MA), os dados não estão completos, já que os prefeitos ainda devem divulgar os nomes de mais secretários municipais.

Os dados coletados pelo G1 mostram que, em 2021, todas as capitais têm ao menos uma mulher como secretária municipal. Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, é a única capital com apenas uma mulher. São 12 secretários no total. Em nota, a Prefeitura de Campo Grande afirma que “a mulher tem papel de destaque na gestão” e que a vice-prefeita, Adriane Lopes, “realiza trabalhos de extrema importância para a comunidade”.

“Também temos mulheres à frente da Secretaria de Educação e da Planurb [Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano], além de três subsecretarias comandadas por mulheres: do Bem-estar animal, da Juventude e dos Direitos da Mulher. Temos ainda em Campo Grande a primeira Casa da Mulher Brasileira”, diz a nota.

Em outras capitais, porém, apenas duas ou três mulheres foram nomeadas para o cargo, como em Porto Alegre e Goiânia – onde 90% do secretariado é formado por homens.

Já Recife e Belém registram o maior número de mulheres nos cargos, percentualmente. As mulheres ocupam a metade dos 18 cargos de secretaria do Recife. Em Belém, elas são 17 de 35 (49%). Nenhuma capital tem mais mulheres secretárias do que homens.

Embora os dados de 2021 não mostrem a equidade de gênero nas capitais, houve um aumento na representatividade. Em 2017, quando a gestão anterior teve início, 108 dos 492 cargos eram ocupados por mulheres (ou seja, 22%).

De 2017 para 2021, o percentual de mulheres nas secretarias aumentou em 14 das 26 capitais. Em Florianópolis e Maceió, o índice não oscilou. Dez capitais registraram uma queda: Campo Grande (-25 pontos percentuais), São Luís (-23 pp), Natal (-23 pp), João Pessoa (-22 pp), Vitória (-18 pp), Goiânia (9 pp), Rio Branco (-5 pp), Rio de Janeiro (-4 pp), Manaus (-4 pp) e Boa Vista (-2 pp).

Dos 26 prefeitos de capitais, apenas uma é mulher: Cinthia Ribeiro (PSDB), reeleita para comandar a Prefeitura de Palmas (TO). Apesar disso, são 10 mulheres e 22 homens no secretariado. O número de mulheres, porém, já é bem maior do que o registrado em Palmas em 2017: 2 mulheres e 26 homens.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, 51,8% dos brasileiros são mulheres. Porém, elas ainda são minoria quando o assunto é participação política. Nas eleições de 2020, a cada 10 candidaturas às prefeituras, apenas uma foi de mulher. Além disso, 12% dos prefeitos eleitos no 1º turno das eleições municipais eram mulheres.

Desconstrução de estereótipos

A professora e coordenadora do Programa Diversidade da FGV Direito Rio, Ligia Fabris, afirma que o aumento no número de mulheres no secretariado municipal deve ser comemorado e já representa um avanço após a luta de movimentos feministas para desconstruir estereótipos.

“As mulheres também são capacitadas, bem formadas, estudadas, podem estar à frente, ou seja, liderando uma secretaria, uma prefeitura. É importante ter em mente essa desconstrução de que, em grande parte da história, o imaginário da competência era uma figura masculina.”
Para a professora, porém, a predominância de homens nas prefeituras facilita a indicação de outros homens para as posições de liderança, já que eles não sofreram discriminação de gênero e parte ainda não tem consciência da desigualdade.

“Ainda é preciso avançar, pressionar, colocar as mulheres à frente das secretarias e, inclusive, prestar atenção porque muitas vezes acontece uma divisão sexual do trabalho político. As mulheres ficam a cargo de secretarias que tenham a ver com cuidado, solidariedade, e não ligadas a recursos, economia. Todos são igualmente capazes de ocupar todos os postos. É uma desconstrução diária e que precisa avançar.”

A cientista política Larissa Peixoto, doutora pela UFMG, reforça que as mulheres não devem ficar limitadas na administração pública.

“É interessante ver não só a quantidade [de mulheres], mas onde essas secretárias mulheres estão alocadas. Eu quero saber o poder que foi dado a elas. E não só se ela existe. Elas foram colocadas na Secretaria da Fazenda? Ou elas estão na Secretaria de Assistência Social, que é um tema que não tem financiamento, em que ninguém tem interesse, que está sempre jogado de lado e é a primeira secretaria a ser eliminada quando estão fazendo cortes no Orçamento?”

Larissa destaca ainda que as mulheres são extremamente participativas na política, mas enfrentam “barreiras altíssimas” na hora de participar como candidatas, seja no Executivo, seja no Legislativo. Para ela, essas barreiras não existem para a maioria dos homens, o que se reflete, por exemplo, no número de prefeitas nas capitais (apenas uma).

“As barreiras para as secretarias municipais são as mesmas que as mulheres em outras posições de liderança enfrentam. Ser chamada para o secretariado municipal, muitas vezes, é uma boa porta de entrada, porque evita os obstáculos da política legislativa, que são maiores para as mulheres. Ao mesmo tempo, a qualificação delas passa a ser questionada, já que não houve uma prova de fogo”, diz a pesquisadora.

“E, de forma geral, essa é a grande dificuldade que muitas de nós, mulheres, enfrentamos todo dia: alguém que julga a habilidade no trabalho pelo gênero, e não pelo mérito. E que não o faria se fosse um homem no lugar. Toda mulher na política é avaliada não só como indivíduo, mas como representante de todas as mulheres e sofre o questionamento de ‘como seria se um homem estivesse aqui?’. A política, na esquerda e na direita, é tão machista quanto qualquer outro local de trabalho.”

Com informações do G1

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