Segundo especialistas, o prognóstico para 2020 não é de melhora. O desmatamento aumentou 25% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado
Um relatório produzido por três entidades da sociedade civil mostra que, no ano passado, 2.195 pessoas foram internadas em hospitais públicos da região amazônica com problemas respiratórios decorrentes da fumaça das queimadas. Diante desses dados, apresentados durante reunião virtual das frentes parlamentares Ambientalista; e de Defesa dos Povos Indígenas nesta quarta-feira (21), os pesquisadores cobraram do governo ações mais efetivas para conter o desmatamento e os focos de incêndio.
Intitulado “O Ar é Insuportável”, o documento revela que as consequências das queimadas para a saúde atingem principalmente crianças, idosos, gestantes e quem tem doenças pulmonares ou cardíacas pré-existentes. Das internações registradas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região como decorrentes da fumaça, 21% foram de bebês de até 1 ano e 49% de idosos.
Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), Miguel Lago, essa quantidade de internações agrava a precariedade do SUS na Amazônia, onde a população já vive no que ele chama de “vazios sanitários”. Lago acrescentou que a pandemia de Covid-19 só piorou a situação.
“A gente está sobrecarregando o sistema em um ano no qual assistimos ao colapso hospitalar completo. São internações absolutamente evitáveis, a gente sabe que combatendo as queimadas pode-se evitar essas hospitalizações”, disse.
O relatório informa que, em setembro de 2019, a população de 168 municípios da Amazônia, cerca de 4,5 milhões de pessoas, foi exposta a partículas finas suspensas no ar (conhecidas como PM 2,5) em níveis mais altos do que os recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Desmatamento
O prognóstico para 2020, de acordo com os especialistas, não é de melhora. Segundo o relatório, o desmatamento aumentou 25% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, e o número de focos de calor em julho deste ano subiu 28% se comparado ao mesmo mês de 2019.
Diretora-adjunta da Human Rights Watch, Anna Livia Arida pediu urgência na atuação do Estado para combater a ação de criminosos que promovem desmatamento e queimadas.
“A gente não está vivendo só uma crise ambiental na Amazônia, está vivendo uma crise de direitos humanos. A situação traz consequências muito sérias para a saúde de milhões de brasileiros que estão respirando esse ar tóxico”, afirmou.
Anna Livia também salientou a importância de uma política pública de monitoramento contínuo da qualidade do ar. Ela informou que há 31 anos uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aponta neste sentido; no entanto, só 12 das 27 unidades da Federação têm sistemas de monitoramento, e faltam financiamento e assistência técnica.
Indígenas
Os debatedores ressaltaram que uma das populações mais afetadas pelos problemas de saúde são os índios, que também veem a subsistência ameaçada, porque o desmatamento e as queimadas diminuem a oferta de caça e pesca.
Coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) salientou que as causas dos índios não podem ser dissociadas da luta ambiental.
“Nós somos os guardiões da terra, da água, do ar. Estamos nessa luta coletiva para que haja um basta nas queimadas e para que a gente tenha uma solução para esses impactos”, declarou.
Reportagem Cláudio Ferreira
Com informações da Agência Câmara de Notícias