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Prefeito de Manaus teme mais mortes de indígenas por Covid-19 e cobra medidas do governo federal

Foto: Marcio James / Semcom

“Temo um genocídio no nosso Amazonas, porque temos um presidente que não liga para os povos indígenas e não valoriza essa cultura. Quero denunciar esse crime contra a humanidade que acontece na minha região”. A declaração é do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, ao cobrar medidas efetivas por parte do governo federal para conter o avanço do novo coronavírus na Amazônia. A doença está matando índios que moram em aldeias mais afastadas da capital amazonense.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, Arthur Virgílio ressalta que, em menos de um mês, já foram registrados mais de 150 casos de Covid-19 em aldeias indígenas, que não tem estrutura para combater a doença. O prefeito teme pela perda de uma história milenar. “No Alto Rio Negro existem 27 etnias, com suas línguas maternas, assim como no Alto Solimões, e cada índio que morre leva consigo parte da história, que não é escrita, mas é passada de forma oral de geração a geração. São milênios de sabedorias. Se todos os índios morrerem, serão mais de dez mil anos de civilização indígena perdida na nossa região, seria algo imperdoável”, alertou.

Para o prefeito de Manaus, além da falta de conhecimento e de cultura, a falta de interesse e liderança por parte do presidente da República, Jair Bolsonaro, interfere no trabalho de tentar frear o avanço do novo coronavírus. “Temos um presidente que faz um conselho sobre a Amazônia, que não funciona para nada, a não ser dar conselhos ruins, que estimulam o desmatamento, a invasão, o agronegócio. Precisamos de uma decisão do governo federal muito forte, precisamos de liderança do presidente, que está faltando, para dar um basta nisso e perceber o quanto é importante para a cultura deste país tudo o que os índios já nos transmitiram de conhecimento, o que eles representam e ainda podem representar em nossas vidas”, ressaltou.

Arthur destacou ainda que o conhecimento indígena pode ser um grande aliado para economia do Brasil. “Já que a preocupação do governo parece ser apenas com a economia, os índios também podem ajudá-la a se desenvolver, pois são grandes conhecedores da natureza e de todos os benefícios que uma exploração da biodiversidade pode trazer. Um doutor formado pela universidade pode ter o conhecimento de laboratório, mas o indígena tem da mata, os dois juntos podem ser grandes aliados para o desenvolvimento de pesquisas e de outros projetos que desenvolvam a economia”, relatou.

Preocupado com a situação dos indígenas do interior, que não possuem hospitais em condições adequadas de equipamentos para atender vítimas da Covid-19, o prefeito Arthur Neto decidiu levar a cápsula “Vanessa” também a outros municípios do Amazonas. O método, desenvolvido pelo grupo Transire, em parceria com o grupo Samel, que são parceiros da Prefeitura de Manaus e usam o equipamento no hospital de campanha municipal Gilberto Novaes, na zona Norte, realiza a ventilação não invasiva, permitindo que o paciente não precise passar pelo procedimento de entubação orotraqueal.

O equipamento utilizado no hospital de campanha de Manaus se tornou referência no tratamento da Covid-19 em outras cidades e até fora do país. Com o apoio da Prefeitura de Manaus, o método deve ser utilizado nos municípios de Barcelos, Tefé, São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant e Tabatinga. “Nós já entramos nessa luta com o interior. Sinto uma tristeza quando vejo a pandemia se dirigindo na direção dessas pessoas ingênuas, que acabam se tornando presas fáceis para o novo coronavírus executar seu trabalho destruidor. Temo um genocídio e não poderia ficar de braços cruzados, uma vez que Manaus apresenta um certo controle da doença. Vamos à luta pelos nossos irmãos do interior também”, ressaltou Arthur.

Ao se dizer disposto a entrar na briga pela vida dos indígenas do interior do Amazonas, Arthur Virgílio relembrou a história do índio guerreiro Ajuricaba. “Foi um herói amazônico que resistiu como um grande líder militar à colonização portuguesa. Foi preso, algemado e acorrentado, preferiu se jogar nas águas da baía do Buiuçu e morrer, a ser humilhado pelos seus inimigos. Ele é um símbolo para todos nós”, contou o prefeito, acrescentando ter orgulho da herança deixada pelo índio guerreiro. “Se um grego diz ‘sou filho de Zeus’, eu posso dizer ‘sou filho de Ajuricaba’, pois tenho essa vontade de combater o bom combate, que é salvaguardar a vida dos nossos índios e não os ver morrer sem defesa”, finalizou Arthur.

Ascom prefeitura de Manaus (AM)

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