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Cecília Otto fala sobre a fragilidade da população amazonense ao enfrentar a grave crise sanitária por causa da Covid-19

Com o sistema público de saúde em colapso devido à pandemia do novo coronavírus, Manaus registrou aumento de quase três vezes no número de enterros nos cemitérios municipais, na comparação com o período anterior à crise. Entre os dias 12 e 19 de abril, 656 corpos foram sepultados nos campos santos administrados pela Prefeitura de Manaus, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana. Diante da grave crise, o prefeito Arthur Virgílio Neto anunciou que reforçará as medidas para manter o isolamento social na capital do Amazonas e declarou que vai pedir ajuda internacional, para o enfrentamento à doença. “Momentos duros exigem que se tomem atitudes antipáticas para que não sejam desastrosas”, avaliou.

A coordenadora do PSDB-Mulher na região Norte do país, Cecília Otto, lamenta a situação pela qual passa a sua cidade. Cecília Otto conta tem sido difícil para os amazonenses mudarem hábitos e relações pessoais e como isso tem afetado, também do ponto de vista emocional, a população.

“É uma nova forma de trabalho e de viver da sociedade. De repente todo mundo se vê, mas não se toca. Ninguém sente o calor humano. A sobrevivência emocional fica fadada a fraqueza e a falta de ar que o vírus nos causa. Nós perdemos o ar toda vez que olhamos nosso amigo, nosso familiar, nossos pais idosos distantes de todos nós. É difícil para o povo amazonense que é extremamente naturalista. Isso nos causa muita ansiedade”, externou.

Cecília é coordenadora do Centro Municipal de Atendimento Sociopsicopedagogico e trabalha com o Abandono escolar na Secretaria Municipal de Educação na Prefeitura Municipal de Manaus. Ela disse que o trabalho pedagógico foi todo adaptado para o sistema online.

“Estamos fazendo o trabalho todo em home office colocando nossas reuniões pedagógicas em dia e disponibilizando aulas online diária. Mas, para a grande população que sobrevive do comércio informal a situação é mais complicada.  Ela quer está nas ruas, quer trabalhar. Mas, esse momento é frágil”, contou.

Para a tucana, as ações da prefeitura para administrar a crise sanitária são pertinentes e seriam mais eficazes se contasse com o apoio do governo estadual.

“Estamos confiantes nas ações do prefeito. Ele é incansável. Arthur Neto está tomando ações com maior clareza que o governador do estado deveria tomar. Ele teve de imediato a iniciativa de colocar um hospital de campanha em uma área de extrema necessidade de Manaus. O governo do estado também precisa agir de forma mais eficaz. Isso que nos enfraquece”, avaliou.

Cecília Otto também fez criticas ao governo federal, após fala do presidente Jair Bolsonaro ao dizer que não é coveiro para saber o número de mortes por Covid-19 no Brasil.

“Que o governo federal possa nos olhar com mais respeito e humanidade. Porque somos cablocos sim, somos índios sim. E somos seres humanos também. Precisamos ser tratados com respeito e dignidade. É isso que nós buscamos. E queremos que tudo isso passe e que nós possamos ter o direito de ter um novo recomeço”, reivindicou.

Ajuda Internacional

Arthur Virgílio anunciou que enviará um pedido de ajuda aos principais líderes dos governos internacionais. “Estamos pedindo socorro ao presidente e estou escrevendo cartas e gravando vídeos para enviar ao G20, dizendo que a Amazônia faz tanto por eles, segurando a temperatura com sua floresta e seus rios, e está na hora de eles devolverem isso, com médicos voluntários, medicamentos, equipamentos. É um pedido de socorro da Amazônia, com humildade e altivez”, desabafou o prefeito.

Em entrevistas à imprensa local, nacional e estrangeira, Arthur Virgílio tem anunciado o colapso na saúde do Estado e criticado a postura do governo federal diante da pandemia, além de reforçar que o momento é de se manter em casa. “Condeno tanto a atitude do presidente da República, quando gera aglomeração, quanto a das pessoas que não seguem a orientação de manter o isolamento social. Cada um deve pagar sua cota de sacrifício”, rechaçou.

No início da semana, o prefeito de Manaus se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão, junto com o governador do Amazonas, Wilson Lima, e destacou ter sido verdadeiro ao expor as principais demandas para enfrentar a doença, exigindo soluções imediatas. “Chega de conversa, é hora de o governo federal agir. Não podemos mais esperar que avaliem e decidam algo daqui a tantos dias, porque tantas pessoas já terão morrido”, advertiu.

Dentre as medidas mais recentes citadas pelo prefeito, está oferecer a opção de um crematório, a partir de uma parceria, para que os parentes de mortos possam ter outra opção além do enterro, que em Manaus começou a ser feito a partir das chamadas trincheiras ou valas coletivas, mas preservando a identidade dos corpos e os laços familiares. Outra medida, segundo ele, restringe o número de passageiros em ônibus do transporte coletivo, recomendando uso de máscaras de proteção e itens de higiene.

“As pessoas não estão se isolando. Diariamente, temos registro de enterros com óbitos por causas desconhecidas, por insuficiência respiratória. São pessoas que não foram testadas para a Covid-19. Vou ser bem claro, estamos longe do fim da doença e próximo do pico, que deve ser em meados de maio. Precisamos tomar atitudes que encurralem esse vírus da Covid-19”, avaliou o gestor, com 40 anos de vida pública e pela terceira vez prefeito de Manaus.

Enquanto isso, na saúde, o prefeito ressalta que a Prefeitura de Manaus está indo além do seu papel, de suporte à atenção básica. Com a criação do hospital de campanha municipal Gilberto Novaes, instalado na estrutura de uma unidade de ensino pronta para ser entregue, o município ajuda a aliviar o caos na saúde de média e alta complexidade e pretende ampliar ainda mais o número de leitos, que tem 56, atualmente, e pretende chegar a mais de 150. Caso venha a ajuda federal, esse número pode subir para mais de 270. “Isso não é um hospital de campanha, é um gesto de amor”, afirmou Virgílio.

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