Em meio ao caos que se abateu sobre o país nas últimas semanas, quase não se falou no Dia Nacional da Luta pela Redução da Mortalidade Materna, data celebrada em 28 de maio e da maior importância. No Brasil, morrem cinco mulheres por dia, vítimas de complicações ocorridas durante a gravidez, parto ou puerpério (período de 42 dias pós-parto).
Segundo dados do Indicadores de Desenvolvimento Global do Banco Mundial de 2016, para cada 100 mil nascidos, 69 mulheres morreram no parto ou no puerpério no Brasil. Em países desenvolvidos, a taxa é de dez mortes por 100 mil bebês vivos, e no Japão são apenas seis mortes. Por esses índices é possível ter uma dimensão da gravidade do problema que precisamos resolver.
É preciso destacar que a morte materna engloba variadas causas que têm apenas uma coisa em comum: poderiam ter sido evitadas e decorrem de nossa enorme desigualdade social. Segundo a reportagem “Um raio-x da morte materna no Brasil”, publicada pelo site Terra, “as causas de mortes maternas no Brasil estão relacionadas com a qualidade e ineficiência dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), como a atenção pré-natal, ao parto e ao puerpério”.
Entretanto, este tipo de morte atinge todas as classes sociais, porque a nossa cultura, tanto nos hospitais privados quanto públicos, é a da violência obstétrica. Já reconhecido como crime na Argentina, este tipo de violência que pode ocorrer na gestação, no momento do parto e do pós-parto ou no atendimento em situações de abortamento, ainda é praticado livremente no Brasil. Essa é uma questão que nos diz respeito, porque cada morte materna é uma responsabilidade do Estado, que falhou em suas políticas públicas.
Precisamos nos conscientizar de nossa parcela de responsabilidade nessas mortes, que devastam famílias em um momento que deveria ser de alegria. Já passou a hora de pensar a saúde pública, no que diz respeito à gravidez e ao nascimento, pela ótica das principais interessadas: as mulheres. São elas que perdem a vida em um sistema inepto e machista.
* Yeda Crusius é presidente Nacional do PSDB-Mulher, deputada federal no quarto mandato pelo Rio Grande do Sul, ex-governadora e ex-ministra do Planejamento.